quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Tu te tornas responsável pelas relações tóxicas que cativas

Tu te tornas eternamente (ou até quando você quiser) responsável pelas relações tóxicas que cativas. Sinto dizer isso assim de cara. Precisei passar por tantas e bem peculiares para fixar esse mantra na minha vida.
Dentro dos nossos vínculos afetivos, atraímos o que acreditamos merecer, inconscientemente. Ninguém atrai algo/alguém que futuramente irá causar transtornos e assuntos maçantes na terapia de maneira proposital.
E de antemão aviso: esse texto não é sobre mocinho e bandido. Na vida real essa teoria não funciona. Afinal somos todos mocinhos, bandidos, figurantes, coadjuvantes, protagonistas, editores, dependendo de cada situação e/ou ângulo. Ninguém se caracteriza puramente por uma coisa só.
Das relações insatisfatórias (e essas independem da vertente), precisamos aprender a assumir nossa parcela de responsabilidade. Responsabilidade, não culpa. Cultivar em si a sensatez de reconhecer o momento em que chegamos à margem do tóxico.
Basicamente, relações são construídas pelo exercício do ceder. E ceder não é o mesmo que se anular. Essa confusão entre os significados das palavras também contribui para o ápice do ruir. Cada um cede o seu tanto, sem abrir mão da própria essência e principalmente, sem violar seus próprios limites.
É muito comum, por carência ou solidão, cedermos além da conta, acostumando o outro a permanecer em sua zona de conforto enquanto ficamos altamente desconfortáveis. O ceder precisa ser mútuo. 
E se a banda não toca nesse ritmo, o tempo passa, os impasses tornam-se constantes e maiores. E quando assistimos tudo ruir, ainda ficamos surpresos. Os sinais estavam ali o tempo todo e mesmo assim nos surpreendemos com os fins.
Tão somente humanidade com pitadas de tolice. Tolice que todos temos independente da idade. Isso é absolutamente natural. E até saudável.
Sentimo-nos tão feridos e decepcionados, sem sequer questionar a nossa contribuição para o fracasso. Esquecendo completamente que tal como somos humanos, os outros também são. Tão óbvio. Tão ignorado. Porque se eu sinto, o outro também sente e vice-versa. Empatia: falta. Julgamento prévio: sobra.
A parcela de responsabilidade a qual me refiro, trata-se basicamente de conhecer e estabelecer seus limites. Respeitá-los e não violá-los.  Se eu não respeitar os meus limites, ninguém mais respeitará.
Relação saudável é quando somos realistas um com o outro. Quando entendemos que cada um tem sua bagagem e suas próprias trips, resolvidas ou não.
Você não precisa "aceitar" o caminho do outro até você. Precisa aceitar seu próprio caminho, afinal é só isso que lhe diz respeito.
Não importa o tipo de relação estabelecida. O respeito precisa estar acima de qualquer coisa. Sobretudo o respeito por si mesmo. E consequentemente o respeito pelo outro. Entendi a parte boa disso tudo. E, claro, a ironia. Cruzar limites é diferente de viola-los. Entretanto, alguns limites estão sujeitos à negociação. Apenas alguns. Esse aprendizado permanece independente das relações futuras. Portanto, não tenha medo de encerrar capítulos. Não é só a sua saúde mental que agradece. Você por completo será gratidão.


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Memórias Póstumas de um Casal sem Vergonha

Encontrei (de novo) aquela nossa foto sorrindo um pro outro. Você com cara de Raul dizendo insistentemente "eu sou astrólogo!", enquanto eu ria descontroladamente.

Pouco antes desta foto, você estava cantando "chovendo na roseira", justamente aquela estrofe: "...ah, você é de ninguém..." à qual prontamente respondi, dentro da melodia: ah... Você também... Enquanto forjavamos essa liberdade gritada, estávamos ali, presos um ao outro. Em silêncio, sem confessar que naquele momento éramos sim pertencentes um ao outro.

Mas essa passividade diante de possíveis histórias paralelas à nossa, era uma forma de defesa. Naquele momento eu não sabia, muito menos você, que a monogamia voluntária era recíproca.

Nós dois, tão evoluídos, discursando o amor livre, estávamos era morrendo de medo de nos perder. E foi assim que nos perdemos. Quando a dúvida perdeu a graça. Quando a possibilidade de haver mais corações fora do peito começou a doer.

Nos esquecemos por um tempo. Ou pelo menos fingimos esquecer. Conhecíamos bem os joguinhos em que o desapego parece atrair. Mas por experiência própria, nossa história não era regra. Era exceção. Tudo o que precisávamos era escancarar o apego. E o quanto estar longe doía. E estar perto era lar. Nós fomos a piada.


terça-feira, 13 de novembro de 2018

Feliz Ano Novo?

Inevitável olhar para 2018 e não pensar: deu ruim! Pra começo, teremos um representante que vai contra os ideais da metade de uma nação inteira. Acidentes de percurso. Precisam acontecer e, neste caso, infelizmente aconteceu.
Mas, pelo princípio hermético, a lei da correspondência ensina que "O que está em cima é como o que está embaixo, e o que está embaixo é como o que está em cima.". Isso quer dizer que nem tudo está perdido. Harmonicamente, do negativo, mostra-se igualmente o positivo. Como constelações do mesmo céu vistas de diferentes pontos do universo.
E como alguém que tenta, todo dia, ser um pouquinho mais otimista (o que não é nada fácil), prefiro a auto-gentileza. Então: aprendemos a nos unir e proteger uns aos outros. Formamos uma barricada firme para barrar qualquer possível consequência trágica deste retrocesso. Além disso, tenho pro meu gasto pessoal, mania de ter esperança em dias melhores.
E falando de maneira mais pessoal ainda, nesta tentativa de retrospectiva, também aprendi a ser mais grata aos meus erros. Os erros são recomeços inevitáveis. Não fosse por eles, não aprenderia metade do que aprendi esse ano. O erro é um olhar mais íntimo e gentil às próprias sombras. Erro é construção.
Toda perda, ainda que anunciada, mas nunca esperada, me fez respeitar ainda mais a morte das coisas. A morte das relações principalmente. E a ela também ser grata pela graça do seu silêncio num mundo tão barulhento. Em contraponto, me fez temer a falta, o vazio e o desfazer dos meus. Reforçou o aprendizado já antigo e posto em prática de que todo afeto que há em mim deve ser exposto. Que falar o que sente não é de se envergonhar. E que sentir demais entre tantos que estão sentindo cada vez menos, é uma dádiva.
Confirmei e reafirmei o que eu já desconfiava há anos: paixão é coisa de gente doida sim. E foi daí que me redescobri uma irremediável lunática. Toda taquicardia, e a sensação dramática-paixonite-crônica de "dessa vez não vou aguentar" me roubaram uns sorrisos, umas gargalhadas aparentemente intermináveis, e umas lágrimas, claro.
Quase morri de saudades (de novo!), mas sobrevivi pra entender que saudade pode ser calmaria. E sendo assim, sentir saudade é estar bem, no lugar onde não cabemos mais.
Amadureci, regredi, tomei decisões boas e ruins e também fiquei em cima do muro assistindo o destino se decidir por mim. Perdi a fé, recuperei e percebi que o divino está em tudo, principalmente cá dentro.
Olhei para a beleza do cotidiano. Para as coisas que geralmente não prestamos atenção, tão munidos da certeza de que elas sempre estarão lá. Acaba que contemplamos mais a ausência do que a presença do habitual.
Desfrutei as vantagens de ser doce. 
Vi o mar mais vezes.
Parei de fumar, voltei a fumar. Parei, voltei, parei de novo, voltei a fumar por fim.
Aprendi a falar alemão, mas já esqueci.
Fui vegana por um mês.
Voltei para a yôga. 
Morei sozinha. Morei acompanhada. E por um tempo, abandonei a segurança do meu mundo por amor e conveniência, dividindo o mesmo espaço com alguém que, assim como eu, abandonara a segurança do próprio mundo por amor. Apenas amor. Sem conveniência.
Fui embora. Parti corações, inclusive o meu.
E ainda ontem, vi as cinzas do passado serem levadas pelo vento. Dando lugar a um presente mais leve. Com menos gente, porém com muito mais "eu" em questão. Exatamente como deve ser. Morando mais em mim. Morando mais no agora. Porque embora o futuro esteja logo ali, o presente já está aqui. Só precisamos olhar pra ele. Sendo assim, feliz ano novo, vida nova, recomeços, sobretudo, feliz agora.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Agora que a dor passou

A dor passou e você sente que sofreu à toa. É inevitável. Mas não, não foi à toa. Você cresceu e aprendeu muito nesse meio tempo. Orgulhe-se de você, sem modéstia. Somos seres oscilantes e entre uma oscilação e outra, crescemos.
A culpa pode ainda lhe fazer morada, mas perdoe-se. Você não poderia decidir com a cabeça de hoje os questionamentos de ontem. Somos metamorfoses e o quanto antes aceitarmos isso, mais leve será o caminho.
Lembre-se daqueles momentos em que você foi feliz. Redescubra a leve inocência que havia e pairava no ar, feito música ambiente. Perceba que nos momentos em que esteve apenas contigo, existia o prazer de estar só, de apreciar a própria companhia, por mais que não parecesse. Há paz nesses momentos, ainda que tenham sido eufóricos. E quando se está em paz, até a luz ambiente parece mudar. E talvez mude mesmo.
Assista alguns pôr de sois dentro e fora de si. Respire aliviado por estar em mar calmo. A dor passou e sua paz de espírito é tudo o que importa. E insisto em dizer: perdoe-se. E doe-se. Sim, doe-se sem medo de se machucar. Se machucar faz parte do enredo. Sem cicatrizes não há história. E sem história... Bem, não há experiências.
Mudam os cenários, os personagens, mas o que não muda é o fato de que vai doer de novo. Não pelos mesmos motivos, mas machucar-se é obstáculo definitivo dos que vivem e se permitem. Esteja pronto. De peito aberto, mas corpo fechado. Pé atrás não é garantia de sucesso. Mas um olho aberto tem o seu valor. Afinal, você aprendeu tanto da última vez, de forma que todas as experiências seguintes trarão um novo paladar.
Com o tempo você vai perceber a fatídica realidade: o mundo talvez não seja (por completo) um paraíso. Mas ainda assim, há paraísos esperando pra serem descobertos por você. Mesmo aqueles aparentemente purgatoriais que fariam inveja à Alighieri.
Haverá dores, prazeres, alegrias, infortúnios... Haverá tudo. Desde que se esteja vivo e vívido! E de preferência ávido, seguindo suas vontades, preocupando-se menos com o out e mais com o in.
Como dizia o saudoso Cartola: “... mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora de partida...”. Ainda é cedo, amor. Ainda é cedo pra tanta melancolia sem pausas. Doa-se (do verbo doer), mas prazere-se o que há de ser prazer. E ao que há de ser deleite, lambuze-se, a ponto de lamber os dedos, os lábios e tudo o que lhe convier. É o que eu chamo de hedonismo pontual e com responsabilidade. Ao menos enquanto a dor não voltar.


domingo, 30 de setembro de 2018

Tudo errou

Havia a desordenada insensatez de permanecermos juntos. Tudo errou. Os diálogos, os desentendimentos, os entendimentos da cama. Resolução de problemas insolúveis, infindáveis, dissimulados apenas pela cama.
A minha calma e falta de pressa batiam de frente com a impaciência e excesso de amanhã. Tudo errou.
As palavras apressadas, ansiosas por serem ditas, misturadas as lágrimas de falsas despedidas.
Desacostumamos das relações. Não soubemos agir quando na verdade o que era pra ser já estava sendo. Quisemos mais, exigimos mais, sem um carinho. Pensávamos que merecíamos mais. Resultado das dívidas passadas que o amor deixara em nosso peito.
O amor deve ser leve, sem tirar nem pôr. Mas só o que descobrimos é que o amor deve. E não é pouco.
Debruçamos nossos utópicos pares perfeitos um sobre o outro, tornando-nos pesados demais.
Não vimos um ao outro. Nossos olhos buscavam o que queríamos. Logo não nos víamos.
Forçamos a intimidade que não havia, pois esta carece de tempo. Ambos caminhávamos desconcertados, trôpegos, sem tato. Cheios de dúvidas. Tudo errou.
A tensão desconfortante dessa convivência precoce pairava sobre as nossas cabeças, prestes a desaguar e nos afundar no enfim chegado adeus irremediável.
Cá do outro lado, longe do cenário, na última fileira do espetáculo, assisti tudo ruir. E ruiu. Agressivamente.
As palavras antes apressadas deram lugar para o silêncio. E assim permanecemos em meio aos escombros de nós dois. Trágico silêncio.  
As lágrimas deram lugar à mágoa. Calada. Ressentida.
E as despedidas encenadas pela paixão instantânea, agora tornavam-se reais. Sem um sorriso. Sem mãos desentrelaçando-se vagarosamente.
Em tudo, erramos.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Você não é especial


Recentemente caí nas armadilhas daqueles testes que estão espalhados pela internet. Como por exemplo: “Veja o que esconde o seu inconsciente”, ou “Teste aqui o seu QI”, ou “O que você vê primeiro nessa imagem diz muito sobre sua personalidade” e daí pra pior. Todos eles me disseram indiretamente a mesma coisa: você é comum, mediano. Você não é especial.
Todo ser humano acredita, dentro do seu individualismo, ser especial. Tudo o que vemos, sentimos, lemos ou assistimos vende essa ideia. Talvez seja esse o principal alicerce do erro em subestimar os outros. “Você é especial, ninguém mais”, “Só você é capaz de tal coisa, só você poderia pensar de tal maneira.”... O fato é que, não importa o quanto você se sinta “diferentão”, você não é especial. E tá tudo bem!  
O peso de ser melhor acompanhado do medo de ser comum assemelha-se com carregar tijolos que de nada vão servir. Pois com o tempo ficam mais pesados e inúteis e vão tornando o caminho muito mais difícil. Somos finitos. Ficamos cansados e velhos demais pra carregar tantas cobranças. E muitas vezes percebemos a ironia tarde demais, prestes a partir. O tempo é a única unidade de medida em devíamos confiar. No entanto, por vaidade ou burrice, depositamos toda a nossa energia em unidades secundárias como a falsa singularidade. Enquanto o tempo, sem hesitar, passa por nós sem piedade.
Ver a si mesmo apenas como humano parece óbvio. Mas não é. A maioria de nós insiste em ignorar sua própria finitude, como se o simples fato de pensar nisso trouxesse mau agouro. Esquecemos que estamos em contato constante com o fim quando, ironicamente convivemos com ele. Nos preocupamos demais com quem queremos ser e o que podemos conseguir, deixando de lado o que somos agora e o que temos agora.
O excesso de si, a ansiedade pelo que está por vir nos faz perder o mais importante: o que é. Essa corrida por qualquer sucesso, a ânsia de realizar algo extraordinário cansa e cega. Até porque o extraordinário está em todo lugar. O extraordinário é comum e não é necessário correr para alcança-lo.
Toda essa ansiedade é produto das convenções sociais que impõe que façamos, sejamos e tenhamos sempre o “melhor”. Instigando uma luta desleal e diária. Interna e externa. Mas o que é o “melhor”? Ouvimos e até reproduzimos a ideia de sucesso associada a capacidade de ganhar dinheiro, formar famílias e ter um pet na nossa utópica casa de 6 cômodos. Receita pronta. Só precisa seguir. Mas e se o seu melhor for o caminho oposto? Viver sem o conforto padrão, mudando de lugar e conhecendo novas culturas. Significa que você está errado? Depois de ler tudo o que foi dito acima, essa pergunta nem merece resposta.
A vida é tão curta, mais curta do podemos mensurar e ignorar isso é perder-se no próprio caminho. E essa perda não tem volta. O sentido é para frente, não tem como voltar. Portanto largue de uma vez os tijolos das cobranças sociais. Pare de correr em busca do feito “extraordinário” que assombra até os seus momentos de prazer. Felicidade é fluir de acordo com a sua natureza e se sentir confortável em acompanhar a correnteza. Não há nada de errado nisso, porque quem muito se debate, se afoga. Você não é especial. E isso é libertador.




terça-feira, 21 de agosto de 2018

Depois que a dor passar

Depois que a dor passar você vai perceber que falar sobre o assunto ajuda sim. Por mais que exista gritada a vontade de se esconder e curvar, as poucas vezes em que você falou o que sentia ajudaram mais do que o silêncio. Grite antes de calar pra não precisar mais gritar. 
Depois que a dor passar vai ficar claro que aquilo que um dia foi o objeto do seu desejo partiu quando tinha que partir. Que não existe hora errada para os fins. Tudo acontece (ou não acontece) na hora certa. A aflição faz parte da trama, embora você não consiga ver agora que ainda dói.
Depois que a dor passar você vai entender a importância de ir fundo e de mergulhar em si por algum tempo. Não há nada de errado em estar sozinho pra se reencontrar. Você não é um mau amigo por se isolar. Respeite suas metamorfoses. Você precisa delas pra florescer de novo.
Depois que a dor passar você vai notar como está diferente e que tudo faz sentido. Aceite que é impossível ser o mesmo depois de voltar à superfície de si. Como um rio nunca é o mesmo e é impossível sentir as mesmas águas à cada imersão. Você está seguro aí dentro, portanto seja gentil consigo. O erro é precedente principal da espécie. Ame os seus erros também. Sem flagelo.
Depois que a dor passar você finalmente vai enxergar o problema em seu real tamanho, quase nulo, em processo de cicatrização. Agora parece que tudo é reflexo do fracasso e não há porta ou janela para fora. Tudo parece mais uma camada de erros. Mas não é. Tudo continua no lugar, esteja certo disso, mesmo que não pareça. 
Depois que a dor passar você vai sentir vontade de viver de novo, agora mais forte do que antes já foi. Você está crescendo e é natural se os ossos doem. Tudo o que te trouxe até aqui foi fundamental nesta escalada. Nossos erros são os nossos mestres.
Depois que a dor passar você vai sorrir sem mágoas do passado. Quando realmente passar, restará gratidão pela experiência. Em cima desse chão, tudo é aprendizado. Não há razão para culpa se consequências desfavoráveis são resultado da sua busca. Como já disse antes, seja gentil consigo. Saiba que cada um carrega suas próprias batalhas, vencidas ou não. Você não está sozinho.
Depois que a dor passar você vai notar a paz, o silêncio e a ruína de uma pós-guerra. É hora de reconstruir uma nova realidade sob uma nova perspectiva. É o seu recomeço. Inicie quando quiser.
Depois que dor passar você terá se perdoado o bastante pra seguir em frente. Mais leve e mais sábio. Por fim vai perceber que virar a página é bom, mas escrever um novo livro de possibilidades é melhor ainda.
E enquanto a dor não passa, sinta-a com paixão. É parte do que foi. É parte do que te tornará.


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Namore uma mulher perfeita


Namore uma mulher que entenda imediatamente suas expectativas e corresponda a todas elas. Que só de olhar para seu belo rosto, adivinhe exatamente o que você quer sem a menor necessidade de um diálogo.
Namore uma mulher que seja muito confiante, mas que sempre esteja buscando sua aprovação. Que confie no próprio taco, mas se empenhe para impressionar você. Preferencialmente, seja obcecada com a aparência, mesmo sendo perfeita. Que entenda de uma vez por todas que a maneira como ela se veste define se ela está “pedindo” ou não. E você não é o tipo de homem que tem relacionamento sério com mulher que “pede”, não é? Então é o seguinte: ela precisa estar sempre linda (sim, para uma boa exibição), mas não pode chamar muita atenção.
Namore uma mulher que não tenha TPM, cólicas, muito menos dias ruins. E quando você fizer birra sem nenhuma razão aparente, ela apenas pense: “Nossa! Quanta sorte! Ter ao meu lado um homem tão misterioso e que, em vez de me dizer o que há de errado, me incentiva a resolver enigmas cabalísticos!”.
Namore uma mulher que demonstre muita experiência com sexo e relacionamentos, mas que não tenha ex-nada na vida. Que tenha todas as habilidades para te satisfazer, mas só quando você estiver com tesão, caso contrário, ela é uma mulher “fácil” e vai dar pra qualquer um, óbvio!
Namore uma mulher que assuma todos os erros. Até porque se você grita com ela em algum momento, a culpa só pode ser dela que provocou seu nervosismo.
Que nunca se canse de te ouvir, mesmo quando o que você diz não faz o menor sentido. Que esteja sempre sorrindo, de bem com vida, de vento em popa, feliz pra burro, assim com o mundo!
Namore uma mulher que concorde com fato de que todas as suas ex são loucas e junte-se a você para falar mal delas. E esteja sempre disposta a articular sobre o bem que você faz apenas por existir na vida dela!
Namore uma mulher que, mesmo que vocês arrumem um grande problema juntos, ela resolva tudo sozinha para evitar que você fique estressado. Mas caso peça ajuda, ela é dependente, carente, louca e bipolar. Infantilizada por não ser capaz de resolver essas coisinhas de casal. Daí você já sabe: ela não serve. Descarte.
Namore uma mulher perfeita! Uma Puta-Amélia ou uma Santa-Geni. Boa de cama, mesa e banho!
Ou para o bem de todos, inclusive o seu, pare agora mesmo de ser um babaca e entenda que as relações humanas são feitas de concessões mútuas. Esqueça a fantasia de servidão feminina e passe a valorizar mulheres reais, cheias de defeitos assim como você. Você quer amor? Escolha alguém e ame! É mais simples do que você imagina. Portanto, diminua muito suas expectativas e aprenda a ceder. Escolha ser um homem e não um garoto de 10 anos que faz beicinho quando não consegue o que quer. Assuma uma mentalidade adulta nos relacionamentos e algo incrível vai acontecer: você terá todo amor que precisa. Especialmente o próprio. Porque cá entre nós, se suas relações tem como pré-requisito uma perfeição utópica e machista, você não conseguiria se relacionar ou amar nem a si mesmo, né?




terça-feira, 31 de julho de 2018

"As mulheres são complicadas!"

Muitos homens acham as mulheres complicadas.
“Ora, ora, temos uma Sherlock Holmes aqui!” Tenho certeza que você acabou de pensar isso com ironia.
Mas é um fato: somos vistas como enigmas indecifráveis, inconstantes, “loucas”, doces e amargas ao mesmo tempo, passeando por todos os lugares das mentes destes pobres, indefesos homens mortais. A versão moderna da Esfinge de Tebas.
Devo confessar que me diverte muito todas essas indagações, porque na real, não é nada disso. Não o tempo todo. Toda mulher guarda mistérios que, não importa a pressão que elas sejam submetidas, jamais revelarão. Até porque, algumas não conhecem seus próprios oceanos. Deveriam, mas cada uma no seu tempo. Sem pressa. Sem aperto.
O autoconhecimento é constante e exige paciência. Aí está a importância de não se cobrar demais. Não sucumbir a ansiedade de, imediatamente saber quem é. Afinal, mudamos o tempo todo. O que eu sei de mim hoje, pode e provavelmente vai mudar daqui um tempo. É a busca pelas respostas que transforma e não necessariamente as respostas.
Mas o poder de uma mulher, aquele que não pode ser tirado dela, não está na sua beleza, no dinheiro, num batom ou num salto alto, até porque tudo isso pode acabar com o desgaste do tempo ou com o excesso do uso. O poder da mulher está em reconhecer-se, enxergar-se como uma mulher poderosa. Não poderosa do tipo “mulher-maravilha”. É o poder de não se render por tão pouco, de saber que merece mais e buscar por isso. É ter inteligência emocional não só nos momentos de calma, mas nas adversidades também. Acreditar em si, independente de qualquer opinião contrária a isso. Sentir plenamente que tem as rédeas da própria vida e que todas as decisões cabem somente a ela. Ter a consciência de que, se as coisas saíram do controle, é preciso buscar calma antes de agir. Respirar. Eu sei, sei muito bem que não é fácil. Mas vale a tentativa. Se você sabe os seus pontos fortes e fracos e se conhece, voilá! Saiba quem você está e saberá como agir. O ser é pura metamorfose. 
Talvez seja essa a incógnita da mulher: a capacidade de se reinventar tão naturalmente quanto despertar pela manhã. Basta um click na psique dela. Algo que pode acontecer à qualquer hora do dia mais comum. Impossível de ignorar. Arrisco comparar com um beliscão, só que na alma. Superamos com maestria as dores (internas e externas), paixões sem futuro, um babaca qualquer, problemas emocionais e até financeiros.
Deve ser confuso mesmo presenciar tal evento. Talvez seja essa a “confusão” constantemente associada a nós. Somos muitas dentro de uma só, mas ainda assim escolhemos a melhor versão de nós independente do momento. É uma escolha instintiva, portanto não tente lutar contra isso. Intuição não é nada místico. É a sua vivência ligada a sua essência avisando o perigo. Ou o gozo, claro. Nada além de uma conferida básica no histórico. Portanto não tenha medo de usar sua intuição, nem de confiar em si mesma. Porque não somos complicadas. Somos apenas uma variante mais funcional do ser humano. Os homens que me perdoem, mas é de conhecimento geral a magnitude da mulher.



terça-feira, 24 de julho de 2018

Canes: Sol, mar e amor

Em meio à babel de um cotidiano sistematizado, planificado, de horas marcadas e preenchidas, fui desviada para uma atmosfera de ar puro (segundo dados aleatórios de pesquisas de mesas de bar), muito verde, a textura da terra úmida direto nos pés e vento com cheiro de mar. Restava-me agradecer ao universo pela bagunça e suas surpreendentes conjecturas.

Minha sorte é esbarrar com gente que sabe se mostrar. E como o extraordinário se esconde em gestos pequenos, não é difícil notar se permanecemos de olhos abertos para o novo. Tudo se torna novo sempre que mudamos de ângulo, passeando por ópticas diversas.

Cidade pequena, moça estranha da cidade grande e com quase 2 metros de altura... Poderia ser uma profecia de Raulzito. Mas era só uma forasteira procurando onde comprar cigarros numa tarde de quarta-feira. Sorridente, a poetisa se deleita com a paz do lugar e o som do mar preenchendo qualquer silêncio.

Embora fosse novo o lugar, sosseguei no meu lar, que sou eu. E da janela de mim, não deixei passar um detalhe sequer. Engana-se quem pensa que eu sou deveras distraída. Para tudo que estimula minha curiosidade, permaneço atenta, mesmo em meu silêncio previsivelmente cogitativo.

Eram muitos os planos e cronogramas bem organizados. Mas ao chegar, deixei os planos e as malas no chão. Deixei-me bagunçar por ele, de olhos tão atentos aos meus movimentos e expressões. A desordem deu-se à mente, aos cabelos, pernas entrelaçadas, à casa e às horas correndo, fugitivas dos ponteiros. Como dizia Saint-Exupéry: “Quando o mistério é muito impressionante, a gente não ousa desobedecer.”.

Ao findar o dia, tinha decorado ¼ da sua geografia. Talvez mais, nunca fui muito boa em geografia. Logo voltei a desbravá-lo, tentando mapear suas pintas e contornos. Ele prontamente fez o mesmo sem hesitar. Por horas, talvez dias, não tenho certeza, nossos olhos passearam um pelo outro, encontrando-se vez ou outra num sorriso de rosto todo (que sorri boca, dentes, olhos, sobrancelhas e pupilas dilatadas). E enquanto me fitava, sussurrava asneiras tormentas:

- Você existe de verdade?

Deixei-lhe apenas um poema, escrito à próprio punho como prova de que eu estive ali. Um poema. Nada mais, nada menos.

Acordei na cidade grande, com barulhos de buzinas, apressados e seus cicerones. Se outrora as horas pareciam correr, agora se arrastam preguiçosas, tentando alcançar o ritmo da vida prática, junto às massas que se apressam em exceder seus ciclos e, acelerar o tempo em que não haverá mais tempo.

Me permiti não questionar,  abrindo os paladares, degustando memórias, esboçando sorrisos de rosto todo, despertando os sentidos.

E num dia frio de julho, me aqueci com fragmentos daqueles dias em Canes.

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Se ele gostasse, você saberia

Estava num barzinho com alguns amigos e não pude deixar de ouvir o papo da mesa ao lado. Duas mulheres: uma questionando o porquê de fulano não ter ligado, o porquê de não mandar mais mensagem, o porquê do dito cujo ter sumido... (pausa dramática para um déjà vu). E a outra buscando mil justificativas para o caso, tais como:
Ele não está pronto para um relacionamento sério;
Ele está com medo dos próprios sentimentos;
Ele está se dedicando demais ao trabalho;
E daí pra pior.
Por que mentimos umas pras outras na tentativa frustrada de nos agarrarmos à antiga bandeira da esperança de um final feliz com pássaros azuis cantando? Temos tanto medo de dizer a verdade, afinal é uma fantasia em que (quase) todas acreditaram.
A grande maioria das mulheres se apaixona pela possibilidade de um relacionamento e não pelo cara. Cá entre nós: quantos encontros você enfeitou pra si mesma e para as suas amigas quando na verdade nem foi tão bom assim?
Nós ouvimos o tempo todo, desde a infância, o quanto é importante casar e construir uma família. E se por acaso fugimos a esse script, demos errado como mulheres. Não, minhas caras! A realidade é outra.
Primeiro é preciso estabelecer uma real relação de amor por si mesma. É clichê, eu sei. Mas nenhum clichê é clichê à toa. Você é a pessoa mais importante a ser conquistada. Já experimentou passar um tempo apenas consigo mesma? Conhecer as coisas incríveis que você é capaz de fazer? Estimular seus talentos e descobrir novos? Você é uma companhia maravilhosa! Por que não apreciá-la?
Não há nada mais sedutor do que uma mulher que sabe que é incrível. Que se conhece e se ama em todos os detalhes. A energia que emanamos quando estamos à vontade conosco é contagiante. Não tenha dúvidas disso. E caso tenha, experimente. Nada melhor do que experiências próprias pra tirar qualquer interrogação da jogada.
Se você se pergunta demais sobre o que o outro sente, tentando ler os “sinais”, as entrelinhas, o mapa astral... No fundo já sabe a resposta: ele não está tão afim de você. E ESTÁ TUDO BEM! A gente sempre, SEMPRE sabe quando de fato existe o gostar. Quem gosta não suporta esconder o afeto! É sufocante!
A ausência desse afeto não significa que você é menos capaz, inteligente ou atraente. Na verdade não significa nada. Não leve tudo tão à sério. Parte pra outra! Flertar é delicioso e divertido quando há leveza, sem expectativas.
Homens não costumam fazer joguinhos (exceto os artistas da sedução, que traçam estratégias para seduzir. Mas estes são poucos e não é sobre eles que estamos falando). Quando gostam, não hesitam em demonstrar.
Saudades “pontuais”, às 02h30min da manhã de uma quinta-feira, não passam de carência. Definitivamente não é o mesmo que gostar ou estar apaixonado. Fica ao seu critério saciar o seu desejo também, consciente de que, por mais que pareça um romance, não é.
Quem gosta liga, manda mensagens e até viaja 300 km de bike nem que seja só pra um café ao seu lado. Pra quem gosta não existem dias ruins, trabalho demais, cansaço ou tempestade que impeça um encontro.
Quem gosta, dança na chuva cantarolando “Singing In The Rain” sem medo de ser ridículo. Ou de pegar um resfriado.


sexta-feira, 13 de julho de 2018

Encontros e despedidas

Em cada fase da nossa vida, pessoas vêm e vão. E isso não tem nada a ver com falsidade ou deslealdade. É um processo natural. Levamos e deixamos um pouco de nós em cada cantinho do mundo. Não brigue com esse processo. Tampouco tente achar justificativas ou culpados. Essa postura só vai te machucar. O mundo não está contra você. Ninguém está. Calma.
A vida é uma caminhada constante. O tempo não para, os seus pés também não. Certo que há momentos em que algumas relações parecem nos fazer flutuar, trazendo descanso aos pés já muito calejados. E é essa sensação que nos faz querer ficar. Entenda que toda relação saudável é uma troca. E o próprio tempo e as metamorfoses de cada um desgastam essas trocas. Não existe vilania alguma nisso. As mudanças são saudáveis.
Se seguir adiante, vai perceber quantas experiências incríveis poderá viver e quanta gente ainda vai conhecer. Seja paciente consigo mesmo. A pressa é uma mácula medíocre. Aqueles que passaram têm um pouco de você. E você, um pouco deles. Seja grato e siga.
Deixe ir sem mágoas. Agradeça pela visita. E quando deixar novamente alguém entrar, deixe-o à vontade para ficar ou partir. Não esqueça de que você é inteiro e que ninguém pode preencher algo que está cheio. Apenas diminua suas expectativas. Ame e viva sem julgamentos, cobranças e expectativas. Tudo chega ao fim e isso não significa que deu errado. Significa que deu certo em todas suas fases, inclusive no final.


segunda-feira, 28 de maio de 2018

Amiga, tenho umas coisas pra te dizer

Em primeiro lugar, gostaria de dizer que você é uma mulher maravilhosa e única. Em contraponto, não enxerga isso, pois está constantemente olhando para fora de ti.
Porém, a partir deste exato momento, você pode virar a mesa! Sim! Você pode tudo! Porque tudo o que você precisa está em ti. TUDO O QUE VOCÊ PRECISA ESTÁ EM TI!
Você não precisa de alguém para se sentir completa. Você já é completa. A companhia de outras pessoas deve ser agradável, divertida e leve. Não essencial. Olhar seus próximos relacionamentos dessa forma será tão bom pra você, quanto pra quem te acompanhar.
Invista em você. Aprenda coisas novas, arrisque novos territórios, aprenda um novo idioma, estude, viaje, saia da sua zona de conforto que, sabemos, não está confortável. Você verá o quanto novas experiências podem enriquecer a mulher que você é.
Faça tudo por você. Porque VOCÊ é a pessoa mais importante da sua vida. Esse, amiga, é o caminho do auto amor.
Nunca é tarde para recomeçar de um novo ponto de partida.
Você é linda! Apaixone-se por você, pela mulher incrível, batalhadora e cheia de possibilidades que você é.
Eu sei também que não é fácil desconstruir tudo que lhe foi dito e ensinado durante tantos anos. A “Amélia” que você aprendeu a admirar, não era mulher de verdade. Era uma mulher sedenta pela aprovação de todos através da sua terna humildade e submissão. Escolha ser “Geni”, que amava sem censura, sem se preocupar com a opinião alheia. Que era doce aos paladares e amarga às más línguas. Escolha acima de tudo, seguir a sua vontade.
E essa nova atmosfera a qual você adentrará por meio do auto amor, será contagiante. Naturalmente, as pessoas com energia similar a sua, se aproximarão e apreciarão a sua companhia.
Amiga, preocupe-se primeiro em agradar-se, porque você merece. Pega aquele batom vermelho esquecido na gaveta, solta os cabelos e as amarras do senso comum. Vai e peita o mundo!
Acredite em você. Eu acredito e sigo torcendo.
Eu sinto muito pelas desventuras passadas.
Me perdoe se toquei em algumas feridas com essa carta.
Eu te amo exatamente como você é.
Sou grata pela oportunidade de ajuda-la a se ver por diversos e novos ângulos.

Com amor,
sua amiga.



terça-feira, 17 de abril de 2018

Procura-se paixão arrebatadora

A paixão é o combustível do poeta.
Da última paixão que vivi, gastei tudo.
Chorei, sorri, gritei, trepei, fumei até a última ponta.
Bebi até a última gota.
Não sobrou nada.
Quero, para preservar o meu legado de bons escritos, uma paixão nova, nos moldes antigos:
Como a dor e o gozo
O desespero (da saudade de preferência)
E o alívio do reencontro dos corpos
A insanidade rondando o equilíbrio
O equilíbrio ludibriado, ingênuo, pela insanidade
Mensagens confusas de madrugada, por consequência de possíveis encontros oníricos
Pés descalços na chuva
Presepada! Toda a presepada possível!
Uma ou duas cenas
Eu prometo que finjo que acredito e até participo!
Planos que não vingarão
Minhas músicas? Estrague todas! Elas se recuperarão e eu também.
Noites inteiras preenchidas por sons de corpos em brasa, músicas, risos, guerra e paz por fim.
Sua ausência: torpor.
Minha ausência: torpor.
E quando a paixão me arremeter impiedosamente ao caos, arremato eu as poesias que a caneta outrora não quis escrever.
Por fim, paixão por paixão, o poeta e o objeto do seu desejo momentâneo arrebatam para uma eternidade súbita.
Agora me diz (ao pé do ouvido): é pedir muito?




quarta-feira, 11 de abril de 2018

Assinado, eu

Tudo anda tão confuso, mas, o que me resta de otimismo me faz pensar que isso, isso tudo também vai passar. Vejo constantemente as pessoas partirem pela minha inconstância. Me acostumei a caminhar só. Isso nunca foi realmente um problema. Minha própria companhia nunca me fez mal.
O que as pessoas que partem não sabem é que, ao sair aos berros da minha vida, acionam gatilhos que nenhuma terapia conseguiu curar. Gatilhos aconchegados no inconsciente que desconhece passado, presente e futuro. Eles estão sempre lá. As palavras curam tanto quanto machucam. Ou reabrem feridas.
Não há culpa, tão pouco revolta. As pessoas chegam e partem no momento certo. E apesar de estar sangrando agora, ainda sinto que devo ser grata a todas elas. Soa como uma despedida e, talvez realmente seja. Mas estou cansada demais pra exceder a vida ou acelerar a morte.
É estranho desejar estar no meu antigo quarto, no colo da minha mãe, que mesmo com palavras duras, ainda me emprestava seu colo. É mais estranho ainda me pegar fazendo o percurso do meu antigo “lar” sem querer. Mas de imediato lembro que já não é mais um lar.
Volto pra casa com 1 carteira de cigarros e 1L de leite. Não me envergonho em dizer que fiz o mingau que eu tomava na infância. Dormi a tarde inteira. Não sei se por febre ou tanta alma presa na garganta. Estou cansada. Mas isso tudo também vai passar. O cansaço, a negação, os gatilhos, a fraqueza, a saudade, os medos, a desordem, a febre... Isso tudo também vai passar.
A dor tem a capacidade de produzir coisas lindas dentro da gente. Para os que sentem demais, mesmo que em silêncio, sem alardes, buzinas ou gritarias, a dor nunca vem sozinha. Traz a beleza de poder senti-la em sua plenitude. Cada gota. Toda seiva. Todo sumo que provém dela. É a farpa intrusa e indicativa de que há vida. Muita vida. Tanta vida que escorre pelos olhos, transpira pelos poros. E isso basta.

terça-feira, 20 de março de 2018

1 cigarro, 107 pensamentos

4:33 da manhã. 1 cigarro. 107 pensamentos borbulhando na mente que sacanamente, mente para as paredes.
   Mente sobre a saudade que não sinto. Sobre os medos que não tenho. Sobre a sopa que não deixei queimar. Sobre os poemas manuscritos que não estão espalhados pelo chão da sala. Sobre as marcas que ele não deixou no meu corpo e, como eu não me excito ao vê-las no reflexo do espelho. Sobre o riso devasso que não se desenhou nos meus lábios agora mesmo.
   Mente, descaradamente, mente.
   Silêncio. Aquele típico do amanhecer, que afoga todos os sentidos numa imersão de desejos calados pelo “não” presente. Ele ausente. Eu, descrente.
   Sigo pela noite que finda nesse quarto, à mercê de repetidas queixas berradas com paixão. Ou pela escassez muda dela.
   Mente o "não" em apuros. Na desordem dos seus blefes falidos. Pois quer acreditar que ausências lhe trarão as respostas além dos nãos que fazem ciranda à sua volta. Ou pelo menos acredita que lhe trarão a paz de ser apenas 1. Como se pudesse vencer os ponteiros da própria jornada tão somente com teimosia.
Minha saudade faz presença nesses devaneios madrugais. Mas, fora esse impasse aflito, tudo corre bem como nunca. Tudo está em ordem dentro da desordem.
A luz do dia invade o meu quarto numa sutileza impar. E ilumina todos os sins observando os nãos em desespero. Rio. Um mar inteiro do meu riso. Lembro apenas que nenhum “não” dele é capaz de resistir ao meu riso. Rio mais ainda pela certeza de uma ausência breve. E mesmo que não seja breve, há muitos sins sorrindo pra mim de volta.
Não há preocupação senão a de providenciar cigarros. Ou acidentes de percurso, que é quase a mesma coisa.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Partir às pressas

(Preferencialmente ler ouvindo "Bedshaped" - Keane)

Ir embora pode ser um ato de covardia. De coragem. Ou tão somente uma atitude de auto-amor.
É um passo que dá um medo absurdo. E há muita culpa no partir. A sensação de abandonar o barco afundando, o egoísmo que isso parece carregar... Machuca. E não é pouco.
Só que não se pode (nunca) esquecer que, pra salvar alguém, o barco ou até o (a)mar inteiro, você PRECISA sobreviver. Se afundar junto, não haverão chances, opções ou sobreviventes. Pular fora, levando o que dá, dá mesmo um aperto no peito.
Há também um medo de magoar o outro, que paira sobre as nossas cabeças como uma nuvem carregada de chuva, prestes a desaguar. Mas sabe, assim como as alegrias que deixamos nos outros, as mágoas e o tanto que elas duram não são nossa responsabilidade. Cada um tem o seu tempo.
O simples movimento de migrar, desencadeia uma série de ações, reações, alívios e dores. No entanto, é preciso partir. Do emprego que te faz infeliz, do relacionamento que fere mais do que afaga, dos laços umbilicais nem sempre tão saudáveis. É preciso partir. É preciso crescer.
Aí vai mais um clichê particular: a vida é curta demais pra se demorar na inércia do falso conforto.
E sobre os recomeços... Eles são constantes. Contínuos. Eu particularmente, caro leitor, recomeço involuntariamente todos os dias.
A alma que é facilmente tocada por tudo o que é novo, por tudo o que é arte, não tem outra rota além do recomeço. Tudo, absolutamente tudo depende do seu olhar pra si.
Porque a realidade dessa vida de meu deus, é que os céus, as horas, o tempo, o firmamento, os deuses permanecem os mesmos independente de você. O que muda é você. Todo o externo permanecerá, seja cinza ou azul. Mas não você.
Esses recomeços quase sempre são desconhecidos. Mas eu prometo voltar pra contar.
Uma coisa eu já posso afirmar: se perdoar por querer ir embora e, perdoar o outro por ainda não entender, ajuda muito.


segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Geração Líquida

Nem todo dia é fácil ou bom. E de antemão te digo: tá tudo bem. Tá tudo bem não estar bem o tempo todo.
Existem milhares de pensamentos passando pela sua cabeça segundo à segundo. E além da sobrecarga interna, existe a pressão, o excesso de informação do lado de fora da gente.
A falsa felicidade pregada nas redes sociais nos fazem sentir fragmentos de frustrações que podem crescer, ou, se você é um monge, você pode esquecer. Acredite: ninguém é tão feliz quanto "posta". E as suas frustrações não são tão diferentes da maioria: latentes e escondidas nas fotografias paisagísticas e instagrâmicas.
Além de toda essa balela que temos que lidar diariamente, existe a liquidez crescente das relações. Junto com ela, a variedade de "amigos" e "amores" com duração menor que a estimativa de vida de borboletas. E, para combater a solidão (aquela que não gostamos, quando NÃO queremos estar sós) nos colocamos à exposição nos cardápios digitais, forjando afetos plásticos e instantâneos.
Nos alimentamos de curtidas e matchs na busca incessante de endorfinas genéricas. Estamos todos conectados nas redes. Mas desconectados no emocional. Não é à toa que somos a geração que mais se deprime. Tende-se lidar com as cobranças, excessos, mais cobranças, mais excessos... E o psicológico padece.
Em que momento deixamos as coisas simples da vida se perderem? Em que momento VOCÊ deixou?
Amanhã. Outro dia. Outra liquidez à vista. Outra pessoa, outro match, outro mundo pra visitar.
Café amargo, lembranças doces, incógnitas gigantescas. Nos acostumamos. Mas não deveríamos.
Não estou dizendo que experimentar pessoas seja o martírio da atualidade. Muito pelo contrário: é delicioso visitar tantos universos, ideias, pensamentos diferentes do teu. Porém, experimentar apenas não é o bastante. Por isso estamos sempre famintos. E, inegavelmente, exaustos.
Seguindo o curso da sobrevivência humana, naturalmente nos adaptamos. Nos adaptamos à pressa do cotidiano, ao café meio morno, à ausência de gozo, aos fins sem despedidas adequadas. Nos adaptamos ao automático de nós mesmos.
Por isso, pare agora e olhe pra si.
Será que é possível desligar o teu automático hoje?
Porque no final das contas, caro amigo, estamos todos sós.
E já que estamos todos sós, estamos juntos nisso também.