segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Agora que a dor passou

A dor passou e você sente que sofreu à toa. É inevitável. Mas não, não foi à toa. Você cresceu e aprendeu muito nesse meio tempo. Orgulhe-se de você, sem modéstia. Somos seres oscilantes e entre uma oscilação e outra, crescemos.
A culpa pode ainda lhe fazer morada, mas perdoe-se. Você não poderia decidir com a cabeça de hoje os questionamentos de ontem. Somos metamorfoses e o quanto antes aceitarmos isso, mais leve será o caminho.
Lembre-se daqueles momentos em que você foi feliz. Redescubra a leve inocência que havia e pairava no ar, feito música ambiente. Perceba que nos momentos em que esteve apenas contigo, existia o prazer de estar só, de apreciar a própria companhia, por mais que não parecesse. Há paz nesses momentos, ainda que tenham sido eufóricos. E quando se está em paz, até a luz ambiente parece mudar. E talvez mude mesmo.
Assista alguns pôr de sois dentro e fora de si. Respire aliviado por estar em mar calmo. A dor passou e sua paz de espírito é tudo o que importa. E insisto em dizer: perdoe-se. E doe-se. Sim, doe-se sem medo de se machucar. Se machucar faz parte do enredo. Sem cicatrizes não há história. E sem história... Bem, não há experiências.
Mudam os cenários, os personagens, mas o que não muda é o fato de que vai doer de novo. Não pelos mesmos motivos, mas machucar-se é obstáculo definitivo dos que vivem e se permitem. Esteja pronto. De peito aberto, mas corpo fechado. Pé atrás não é garantia de sucesso. Mas um olho aberto tem o seu valor. Afinal, você aprendeu tanto da última vez, de forma que todas as experiências seguintes trarão um novo paladar.
Com o tempo você vai perceber a fatídica realidade: o mundo talvez não seja (por completo) um paraíso. Mas ainda assim, há paraísos esperando pra serem descobertos por você. Mesmo aqueles aparentemente purgatoriais que fariam inveja à Alighieri.
Haverá dores, prazeres, alegrias, infortúnios... Haverá tudo. Desde que se esteja vivo e vívido! E de preferência ávido, seguindo suas vontades, preocupando-se menos com o out e mais com o in.
Como dizia o saudoso Cartola: “... mal começaste a conhecer a vida, já anuncias a hora de partida...”. Ainda é cedo, amor. Ainda é cedo pra tanta melancolia sem pausas. Doa-se (do verbo doer), mas prazere-se o que há de ser prazer. E ao que há de ser deleite, lambuze-se, a ponto de lamber os dedos, os lábios e tudo o que lhe convier. É o que eu chamo de hedonismo pontual e com responsabilidade. Ao menos enquanto a dor não voltar.