quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Ei, menina!

Ei, menina!
Respira. 
Eu sei que os dias não são fáceis e que o mundo não está pronto para o seu fulgor.
Mas tente.
Respira.
Agora talvez você não consiga enxergar a imensidão da luz da sua luta.
Mas está aqui, escapando pelo seu olhar já tão cansado do hoje.
Ninguém pode apagar a luz da sua luta.
Veja: as flores que nos negam são as mesmas que florescem em nosso ventre. Não nos pode ser negado.
 Não acredite na fragilidade que nos pregam.
 Somos força.
 Mulher, não chore.
 Ou chore! Faça o que sentir vontade! A liberdade mora nos detalhes.
 Se há quem saiba como é caminhar com os Deuses, somos nós, mulheres.
 Às nossas filhas pediremos perdão pelo mundo ainda não entender a luz da nossa luta. Mas lhes ensinaremos a lutar como uma "garota".
 Lhes daremos as flores que nos foram negadas.
 Lhes contaremos da força que mora em nossas entranhas.
 Lhes mostraremos que lágrima não é fraqueza.
 Lágrima é, por vezes, alívio.
 Lhes daremos as chaves do mundo, como jamais nos foi dado.
 Então, menina, respira. 
 Os dias não são fáceis, eu sei. 
 Mas resista.
 "Você é seu próprio lar".


Eu gorda

Eu gorda
À margem de padrões pré-estabelecidos para que se viva em sociedade sem afronta-la.
Mas já que eu nasci pra afrontar, padrões não me cabem.
Eu gorda
Vivo a plenitude de ser, livremente, meu próprio padrão.
Eu gorda
Sou minha própria inspiração.
Eu gorda
Sou luta diária. Minha presença é o grito de alerta ao pé do ouvido da sociedade: respeite a minha essência!
Eu gorda
Sou as cicatrizes nuas das batalhas que travei até aqui. Sou os fragmentos dos caminhos por onde passei, também fragmentados por mim.
Eu gorda
Descobri o amor em cada dobrinha do meu corpo. Este mesmo corpo gordo, que é templo de minh'alma livre.
Eu gorda
Posso ser e fazer o que eu quiser. Não há limites nem padrões que possam parar meu apetite de vida.
Eu gorda
Me amo agora. De corpo presente, pulsante, vivo!
Nós, gordas
Somos revolução todos os dias batendo às portas do preconceito ao som da melodia do nosso grito:
ESTAMOS AQUI E RESISTIMOS!


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Você não me deixa sem palavras. Me enche delas gradativa e subitamente, como um copo esquecido numa janela aberta quando chove.

Não, você não me deixa sem palavras. A verdade é que minha língua já está tão cansada que, por esquecimento ou preguiça, cerca-se de lapsos propositais da linguagem falada.

Cala-me a língua. Cala-me a fala.

Mas não cala o peito nem o punho esquerdo que traduz e dá corpo aos devaneios.




sábado, 9 de setembro de 2017

Utopia de Maysa II [+18]

Era sexta-feira entre as pernas de Maysa.

Eram sábados, domingos e feriados morando entre as suas pernas.

Lá fora a monotonia grita, mas não aqui. Aqui o silêncio é corrompido pela luxúria de Maysa. 

Aqui, sua carne farta, espremida pelas minhas mãos famintas, mais faminta fica.

Gosto de ver seus pêlos arrepiados respondendo a minha língua.

Maysa é contíguo de sensações, entregue aos seus próprios desejos.

Pra mim, reles mortal, resta atender os caprichos dessa deusa. 

Maysa é perversa nas suas mordidas.

Seus gemidos são música ambiente.

Sua pele entende perfeitamente o meu dialeto dedilhando seu corpo.

E enquanto sua boceta molha a ponta da minha língua que avança dentro dela, avançam seus gemidos cada vez mais altos. Sonoro júbilo.

Adentro o seu ventre, antes enfeitado pelas minhas lambidas, enquanto ela pede mais... Mais forte, mais fundo, mais dela, mais minha.

Não tenho dúvidas que Maysa guarda em si o céu e o inferno. Ela é paraíso em meio ao caos da minha rotina.

Observo o movimento dos seus quadris, seus olhos gulosos, sua boca entreaberta, seu riso sacana.

E quando seu orgasmo risonho penetra o silêncio da madrugada, mais forte a penetro pelo deleite de sentir seu gozo doce me envolver dentro dela.

Eu sou um romântico, não posso negar. Mais um entre tantos os que carregam suas marcas no peito. De unhas e dentes, vale ressaltar.

Meus ciúmes ficam da porta pra dentro do meu apê. Mais especificamente na bagunçada coleção de Poe onde rabisco minha obsessão muda por ela. 

Não posso reclamar. No agora ela é inteiramente minha. E eu dela. 

Enquanto ela sela o baseado com sua língua de fluídos de nós, cita mais um poeta por quem se apaixonara, já que também é poeta e a poesia lhe é apetecível:

"Tudo o que vemos ou parecemos, não passa de um sonho dentro de um sonho."

Acordei. Sozinho. O que me faz questionar se nossos encontros são deveras utopias.

Mas diante do espelho, estava eu, seguro de que ela esteve ali: seus arranhões comprovam minha sanidade ameaçada pela ansiedade em vê-la novamente. 

No cinzeiro, uma ponta. 

No celular, "desculpa ter ido embora tão cedo.".

Volto a monotonia que me afronta, à mercê dos caprichos da deusa.