Recentemente caí nas armadilhas daqueles testes que estão espalhados
pela internet. Como por exemplo: “Veja o que esconde o seu inconsciente”, ou “Teste
aqui o seu QI”, ou “O que você vê primeiro nessa imagem diz muito sobre sua
personalidade” e daí pra pior. Todos eles me disseram indiretamente a mesma
coisa: você é comum, mediano. Você não é especial.
Todo ser humano acredita, dentro do seu individualismo, ser
especial. Tudo o que vemos, sentimos, lemos ou assistimos vende essa ideia.
Talvez seja esse o principal alicerce do erro em subestimar os outros. “Você é
especial, ninguém mais”, “Só você é capaz de tal coisa, só você poderia pensar
de tal maneira.”... O fato é que, não importa o quanto você se sinta “diferentão”,
você não é especial. E tá tudo bem!
O peso de ser melhor acompanhado do medo de ser comum
assemelha-se com carregar tijolos que de nada vão servir. Pois com o tempo
ficam mais pesados e inúteis e vão tornando o caminho muito mais difícil. Somos
finitos. Ficamos cansados e velhos demais pra carregar tantas cobranças. E
muitas vezes percebemos a ironia tarde demais, prestes a partir. O tempo é a
única unidade de medida em devíamos confiar. No entanto, por vaidade ou
burrice, depositamos toda a nossa energia em unidades secundárias como a falsa
singularidade. Enquanto o tempo, sem hesitar, passa por nós sem piedade.
Ver a si mesmo apenas como humano parece óbvio. Mas não é. A
maioria de nós insiste em ignorar sua própria finitude, como se o simples fato
de pensar nisso trouxesse mau agouro. Esquecemos que estamos em contato
constante com o fim quando, ironicamente convivemos com ele. Nos preocupamos
demais com quem queremos ser e o que podemos conseguir, deixando de lado o que
somos agora e o que temos agora.
O excesso de si, a ansiedade pelo que está por vir nos faz
perder o mais importante: o que é.
Essa corrida por qualquer sucesso, a ânsia de realizar algo extraordinário
cansa e cega. Até porque o extraordinário está em todo lugar. O extraordinário
é comum e não é necessário correr para alcança-lo.
Toda essa ansiedade é produto das convenções sociais que impõe
que façamos, sejamos e tenhamos sempre o “melhor”. Instigando uma luta desleal
e diária. Interna e externa. Mas o que é o “melhor”? Ouvimos e até reproduzimos
a ideia de sucesso associada a capacidade de ganhar dinheiro, formar famílias e
ter um pet na nossa utópica casa de 6 cômodos. Receita pronta. Só precisa seguir.
Mas e se o seu melhor for o caminho oposto? Viver sem o conforto padrão,
mudando de lugar e conhecendo novas culturas. Significa que você está errado?
Depois de ler tudo o que foi dito acima, essa pergunta nem merece resposta.
A vida é tão curta, mais curta do podemos mensurar e ignorar
isso é perder-se no próprio caminho. E essa perda não tem volta. O sentido é
para frente, não tem como voltar. Portanto largue de uma vez os tijolos das
cobranças sociais. Pare de correr em busca do feito “extraordinário” que
assombra até os seus momentos de prazer. Felicidade é fluir de acordo com a sua
natureza e se sentir confortável em acompanhar a correnteza. Não há nada de
errado nisso, porque quem muito se debate, se afoga. Você não é especial. E
isso é libertador.