terça-feira, 28 de agosto de 2018

Você não é especial


Recentemente caí nas armadilhas daqueles testes que estão espalhados pela internet. Como por exemplo: “Veja o que esconde o seu inconsciente”, ou “Teste aqui o seu QI”, ou “O que você vê primeiro nessa imagem diz muito sobre sua personalidade” e daí pra pior. Todos eles me disseram indiretamente a mesma coisa: você é comum, mediano. Você não é especial.
Todo ser humano acredita, dentro do seu individualismo, ser especial. Tudo o que vemos, sentimos, lemos ou assistimos vende essa ideia. Talvez seja esse o principal alicerce do erro em subestimar os outros. “Você é especial, ninguém mais”, “Só você é capaz de tal coisa, só você poderia pensar de tal maneira.”... O fato é que, não importa o quanto você se sinta “diferentão”, você não é especial. E tá tudo bem!  
O peso de ser melhor acompanhado do medo de ser comum assemelha-se com carregar tijolos que de nada vão servir. Pois com o tempo ficam mais pesados e inúteis e vão tornando o caminho muito mais difícil. Somos finitos. Ficamos cansados e velhos demais pra carregar tantas cobranças. E muitas vezes percebemos a ironia tarde demais, prestes a partir. O tempo é a única unidade de medida em devíamos confiar. No entanto, por vaidade ou burrice, depositamos toda a nossa energia em unidades secundárias como a falsa singularidade. Enquanto o tempo, sem hesitar, passa por nós sem piedade.
Ver a si mesmo apenas como humano parece óbvio. Mas não é. A maioria de nós insiste em ignorar sua própria finitude, como se o simples fato de pensar nisso trouxesse mau agouro. Esquecemos que estamos em contato constante com o fim quando, ironicamente convivemos com ele. Nos preocupamos demais com quem queremos ser e o que podemos conseguir, deixando de lado o que somos agora e o que temos agora.
O excesso de si, a ansiedade pelo que está por vir nos faz perder o mais importante: o que é. Essa corrida por qualquer sucesso, a ânsia de realizar algo extraordinário cansa e cega. Até porque o extraordinário está em todo lugar. O extraordinário é comum e não é necessário correr para alcança-lo.
Toda essa ansiedade é produto das convenções sociais que impõe que façamos, sejamos e tenhamos sempre o “melhor”. Instigando uma luta desleal e diária. Interna e externa. Mas o que é o “melhor”? Ouvimos e até reproduzimos a ideia de sucesso associada a capacidade de ganhar dinheiro, formar famílias e ter um pet na nossa utópica casa de 6 cômodos. Receita pronta. Só precisa seguir. Mas e se o seu melhor for o caminho oposto? Viver sem o conforto padrão, mudando de lugar e conhecendo novas culturas. Significa que você está errado? Depois de ler tudo o que foi dito acima, essa pergunta nem merece resposta.
A vida é tão curta, mais curta do podemos mensurar e ignorar isso é perder-se no próprio caminho. E essa perda não tem volta. O sentido é para frente, não tem como voltar. Portanto largue de uma vez os tijolos das cobranças sociais. Pare de correr em busca do feito “extraordinário” que assombra até os seus momentos de prazer. Felicidade é fluir de acordo com a sua natureza e se sentir confortável em acompanhar a correnteza. Não há nada de errado nisso, porque quem muito se debate, se afoga. Você não é especial. E isso é libertador.




terça-feira, 21 de agosto de 2018

Depois que a dor passar

Depois que a dor passar você vai perceber que falar sobre o assunto ajuda sim. Por mais que exista gritada a vontade de se esconder e curvar, as poucas vezes em que você falou o que sentia ajudaram mais do que o silêncio. Grite antes de calar pra não precisar mais gritar. 
Depois que a dor passar vai ficar claro que aquilo que um dia foi o objeto do seu desejo partiu quando tinha que partir. Que não existe hora errada para os fins. Tudo acontece (ou não acontece) na hora certa. A aflição faz parte da trama, embora você não consiga ver agora que ainda dói.
Depois que a dor passar você vai entender a importância de ir fundo e de mergulhar em si por algum tempo. Não há nada de errado em estar sozinho pra se reencontrar. Você não é um mau amigo por se isolar. Respeite suas metamorfoses. Você precisa delas pra florescer de novo.
Depois que a dor passar você vai notar como está diferente e que tudo faz sentido. Aceite que é impossível ser o mesmo depois de voltar à superfície de si. Como um rio nunca é o mesmo e é impossível sentir as mesmas águas à cada imersão. Você está seguro aí dentro, portanto seja gentil consigo. O erro é precedente principal da espécie. Ame os seus erros também. Sem flagelo.
Depois que a dor passar você finalmente vai enxergar o problema em seu real tamanho, quase nulo, em processo de cicatrização. Agora parece que tudo é reflexo do fracasso e não há porta ou janela para fora. Tudo parece mais uma camada de erros. Mas não é. Tudo continua no lugar, esteja certo disso, mesmo que não pareça. 
Depois que a dor passar você vai sentir vontade de viver de novo, agora mais forte do que antes já foi. Você está crescendo e é natural se os ossos doem. Tudo o que te trouxe até aqui foi fundamental nesta escalada. Nossos erros são os nossos mestres.
Depois que a dor passar você vai sorrir sem mágoas do passado. Quando realmente passar, restará gratidão pela experiência. Em cima desse chão, tudo é aprendizado. Não há razão para culpa se consequências desfavoráveis são resultado da sua busca. Como já disse antes, seja gentil consigo. Saiba que cada um carrega suas próprias batalhas, vencidas ou não. Você não está sozinho.
Depois que a dor passar você vai notar a paz, o silêncio e a ruína de uma pós-guerra. É hora de reconstruir uma nova realidade sob uma nova perspectiva. É o seu recomeço. Inicie quando quiser.
Depois que dor passar você terá se perdoado o bastante pra seguir em frente. Mais leve e mais sábio. Por fim vai perceber que virar a página é bom, mas escrever um novo livro de possibilidades é melhor ainda.
E enquanto a dor não passa, sinta-a com paixão. É parte do que foi. É parte do que te tornará.


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Namore uma mulher perfeita


Namore uma mulher que entenda imediatamente suas expectativas e corresponda a todas elas. Que só de olhar para seu belo rosto, adivinhe exatamente o que você quer sem a menor necessidade de um diálogo.
Namore uma mulher que seja muito confiante, mas que sempre esteja buscando sua aprovação. Que confie no próprio taco, mas se empenhe para impressionar você. Preferencialmente, seja obcecada com a aparência, mesmo sendo perfeita. Que entenda de uma vez por todas que a maneira como ela se veste define se ela está “pedindo” ou não. E você não é o tipo de homem que tem relacionamento sério com mulher que “pede”, não é? Então é o seguinte: ela precisa estar sempre linda (sim, para uma boa exibição), mas não pode chamar muita atenção.
Namore uma mulher que não tenha TPM, cólicas, muito menos dias ruins. E quando você fizer birra sem nenhuma razão aparente, ela apenas pense: “Nossa! Quanta sorte! Ter ao meu lado um homem tão misterioso e que, em vez de me dizer o que há de errado, me incentiva a resolver enigmas cabalísticos!”.
Namore uma mulher que demonstre muita experiência com sexo e relacionamentos, mas que não tenha ex-nada na vida. Que tenha todas as habilidades para te satisfazer, mas só quando você estiver com tesão, caso contrário, ela é uma mulher “fácil” e vai dar pra qualquer um, óbvio!
Namore uma mulher que assuma todos os erros. Até porque se você grita com ela em algum momento, a culpa só pode ser dela que provocou seu nervosismo.
Que nunca se canse de te ouvir, mesmo quando o que você diz não faz o menor sentido. Que esteja sempre sorrindo, de bem com vida, de vento em popa, feliz pra burro, assim com o mundo!
Namore uma mulher que concorde com fato de que todas as suas ex são loucas e junte-se a você para falar mal delas. E esteja sempre disposta a articular sobre o bem que você faz apenas por existir na vida dela!
Namore uma mulher que, mesmo que vocês arrumem um grande problema juntos, ela resolva tudo sozinha para evitar que você fique estressado. Mas caso peça ajuda, ela é dependente, carente, louca e bipolar. Infantilizada por não ser capaz de resolver essas coisinhas de casal. Daí você já sabe: ela não serve. Descarte.
Namore uma mulher perfeita! Uma Puta-Amélia ou uma Santa-Geni. Boa de cama, mesa e banho!
Ou para o bem de todos, inclusive o seu, pare agora mesmo de ser um babaca e entenda que as relações humanas são feitas de concessões mútuas. Esqueça a fantasia de servidão feminina e passe a valorizar mulheres reais, cheias de defeitos assim como você. Você quer amor? Escolha alguém e ame! É mais simples do que você imagina. Portanto, diminua muito suas expectativas e aprenda a ceder. Escolha ser um homem e não um garoto de 10 anos que faz beicinho quando não consegue o que quer. Assuma uma mentalidade adulta nos relacionamentos e algo incrível vai acontecer: você terá todo amor que precisa. Especialmente o próprio. Porque cá entre nós, se suas relações tem como pré-requisito uma perfeição utópica e machista, você não conseguiria se relacionar ou amar nem a si mesmo, né?