terça-feira, 17 de abril de 2018

Procura-se paixão arrebatadora

A paixão é o combustível do poeta.
Da última paixão que vivi, gastei tudo.
Chorei, sorri, gritei, trepei, fumei até a última ponta.
Bebi até a última gota.
Não sobrou nada.
Quero, para preservar o meu legado de bons escritos, uma paixão nova, nos moldes antigos:
Como a dor e o gozo
O desespero (da saudade de preferência)
E o alívio do reencontro dos corpos
A insanidade rondando o equilíbrio
O equilíbrio ludibriado, ingênuo, pela insanidade
Mensagens confusas de madrugada, por consequência de possíveis encontros oníricos
Pés descalços na chuva
Presepada! Toda a presepada possível!
Uma ou duas cenas
Eu prometo que finjo que acredito e até participo!
Planos que não vingarão
Minhas músicas? Estrague todas! Elas se recuperarão e eu também.
Noites inteiras preenchidas por sons de corpos em brasa, músicas, risos, guerra e paz por fim.
Sua ausência: torpor.
Minha ausência: torpor.
E quando a paixão me arremeter impiedosamente ao caos, arremato eu as poesias que a caneta outrora não quis escrever.
Por fim, paixão por paixão, o poeta e o objeto do seu desejo momentâneo arrebatam para uma eternidade súbita.
Agora me diz (ao pé do ouvido): é pedir muito?




quarta-feira, 11 de abril de 2018

Assinado, eu

Tudo anda tão confuso, mas, o que me resta de otimismo me faz pensar que isso, isso tudo também vai passar. Vejo constantemente as pessoas partirem pela minha inconstância. Me acostumei a caminhar só. Isso nunca foi realmente um problema. Minha própria companhia nunca me fez mal.
O que as pessoas que partem não sabem é que, ao sair aos berros da minha vida, acionam gatilhos que nenhuma terapia conseguiu curar. Gatilhos aconchegados no inconsciente que desconhece passado, presente e futuro. Eles estão sempre lá. As palavras curam tanto quanto machucam. Ou reabrem feridas.
Não há culpa, tão pouco revolta. As pessoas chegam e partem no momento certo. E apesar de estar sangrando agora, ainda sinto que devo ser grata a todas elas. Soa como uma despedida e, talvez realmente seja. Mas estou cansada demais pra exceder a vida ou acelerar a morte.
É estranho desejar estar no meu antigo quarto, no colo da minha mãe, que mesmo com palavras duras, ainda me emprestava seu colo. É mais estranho ainda me pegar fazendo o percurso do meu antigo “lar” sem querer. Mas de imediato lembro que já não é mais um lar.
Volto pra casa com 1 carteira de cigarros e 1L de leite. Não me envergonho em dizer que fiz o mingau que eu tomava na infância. Dormi a tarde inteira. Não sei se por febre ou tanta alma presa na garganta. Estou cansada. Mas isso tudo também vai passar. O cansaço, a negação, os gatilhos, a fraqueza, a saudade, os medos, a desordem, a febre... Isso tudo também vai passar.
A dor tem a capacidade de produzir coisas lindas dentro da gente. Para os que sentem demais, mesmo que em silêncio, sem alardes, buzinas ou gritarias, a dor nunca vem sozinha. Traz a beleza de poder senti-la em sua plenitude. Cada gota. Toda seiva. Todo sumo que provém dela. É a farpa intrusa e indicativa de que há vida. Muita vida. Tanta vida que escorre pelos olhos, transpira pelos poros. E isso basta.