terça-feira, 23 de agosto de 2016

Solteirice plena e uns aprendizados

Em conversa com uma amiga, depois de muitos assuntos, terminamos a noite falando sobre relacionamentos em geral. Os sinais que emitimos quando estamos apaixonados, quando desdenhamos, e quando demonstramos em demasia tudo isso. Quando entramos no joguinho inútil de "quem ignorar mais, ganha", do orgulho bobo e fora de hora, do ciúme exagerado... Enfim, sobre o céu e o inferno de mergulhar n'outro alguém. E claro, sobre nossas farras inconsequentes dos anos 2000.
Entre muitas gargalhadas e umas taças de vinho, surgiu a pergunta que a gente se faz há anos: por que nossos relacionamentos não deram certo? 1 minuto de silêncio seguido de um gole exagerado. Eu sempre pensei nisso. A sensação que tenho é que quando começamos esse processo de doação e, geralmente sem perceber, nos deixamos de lado. E gradativamente piora. Ao invés de intensificar, ou ao menos manter nossa essência e até mesmo aquela inocência juvenil, vamos nos deixando no outro e no próximo que vier e assim por diante.
Não me lembro, desde que eu comecei a namorar, lá no auge dos meus 15 anos de, de fato ter ficado solteira. Solteira mesmo, sem sair com ninguém, sem apelar pro PA, sem me aproveitar da paixonite alheia pra suprir a carência daquele momento. Talvez, pela maturidade do agora, eu consiga observar isso. Me observar com jeitinho e finalmente, ficar sozinha, tão somente com a minha companhia. E ficar bem com isso.
Cara leitora (ou leitor), eu não sei como você está se vendo agora, mas espero que consiga entender, sem esperar tanto quanto eu, que a melhor companhia que você pode ter é você mesma.
Quando a gente aprende a se apreciar, é natural desejar cada vez mais um tempo pra si. E nada melhor do que o tempo pra curar qualquer dorzinha de cotovelo e outras coisitas mais. Logo, seu próximo relacionamento naturalmente será mais leve. Mas não pense muito no próximo. E sim no atual. Você com você mesmo. Valorize sua própria companhia.
Então respondendo (eu acho, porque talvez eu encontre outra resposta melhor assim que terminar esse texto, ou não), acredito que todo relacionamento dá certo sim, por um tempo. A gente perde o caminho quando deixa de se querer, de se ver. É preciso saber ser 1 e se sentir completo assim. A saúde de uma relação está na individualidade de cada um. Porque se no percurso alguém vier,  vai saber caminhar junto, sem abrir mão dos próprios passos.




sábado, 13 de agosto de 2016

(Des) Apego

Eu não sei descrever a confusão que há em mim agora. Eu tô mesmo é com vontade de fugir de tudo. Gente demais, eu não sei assimilar. Gente cobrando demais atenções que eu não tenho dado nem pra mim, eu não sei assimilar. Eu, que na maior parte do tempo prefiro a solidão, agora consigo ouvi-la com tanta clareza, que machuca. Tudo é silêncio. Mas prefiro assim.
Pra sermos aceitos a gente acaba optando por máscaras tão inúteis quanto guarda-chuvas de R$ 9,99. Mas assim como guarda-chuvas baratos atraem pelo preço, tais máscaras atraem pelo apreço. E se as máscaras nos caem tão bem, naturalmente atrairá outros tantos mascarados carentes de algum mínimo de afeto nessa sociedade onde o que impera é o desdém.
Quando a gente despe até a alma, só  o que resta é o reflexo dos erros, das cicatrizes do tempo, dos passos tortos. Os ossos inflamados e a ausência de disposição pra seguir. E até nisso há beleza, porque é humano. As vezes dá vontade de se ajeitar num cantinho e lá ficar, só um pouquinho. Até acalmar a tempestade.
Eu não sei o que sinto. E se soubesse, provavelmente calaria ainda assim. O caminho que eu escolhi e que me escolheu também, me ensina muito, todos os dias. É preciso visitar os próprios abismos. Conhecer a própria escuridão e aprender com ela. Sentir o que vier e lidar com isso. No meu caso, é esvaziando e dando espaço ao novo. Esvaziando pra limpar a casa. Pra limpar a alma.
Foi então que decidi desapegar. De coisas, pessoas e de alguns sentimentos também. Tem gente que fica tão bonita na liberdade de andar só, que não cabe insistir na caminhada à dois. É melhor deixar partir. Assim como os meus livros já doados vão fazer sala em outra casa e prender a atenção de outros leitores, pessoas amadas por mim (muito bem amadas, inclusive), vão enfeitar outras vidas. É justo, afinal ser livre é a arte de não pertencer e não possuir também.
Para alguns, desapego parece altruísmo. Mas eu não vejo dessa forma. Desapego é sobrevivência. É como abandonar o barco antes que ele afunde. É auto defesa. É a reação prévia contra a dor. Embora a dor também precise ser sentida. Como tudo nessa vida.
A gente não escolhe por quem se encanta e muito menos quando isso acontece, ou nos damos conta de que aconteceu. É o maior clichê  que eu conheço, mas é verdade. Só que quando a gente gosta mesmo de alguém, conseguimos entender o momento de partir. A vontade de morar no universo do outro não pode ser maior do que a vontade de permanecer no próprio universo. Tá aí a maior vantagem do desapego: abrir mão de tudo, exceto de si.