sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Inícios, meios e fins

Lá fora, tudo é a mesma quinta-feira. Mas não aqui. Faço-me crer nas falhas imperceptíveis dos ponteiros que seguem lentamente sem serem notados. E nesse meio tempo de fins sem meios, gostaria de escrever algo sem firulas, direto e reto ao meu leitor.  Mas hoje me sinto cansada demais para acelerar a rota e antecipar a chegada. Não há razão para pressa. O tempo, por si só, é um velocista. Todos os ciclos dos quais me envolvi, me giraram numa dança desengonçada. E deles parti fazendo alarde. Deixando saudade. Sempre. Partir/chegar, basicamente é envolver-se em outros ciclos deixando aqueles de outrora pra trás. Tornar consciente a necessidade de aproveitar as coisas que a vida me oferece foi uma espécie de mantra que repeti diariamente. O momento é o agora e o amanhã independe da nossa vontade. Nesse jogo ganha-ganha-perde-perde da vida, o meu bônus era maior que o ônus. Inclusive essa foi a razão pela qual cheguei até aqui. Mas agora acabou, como todos os ciclos. A roda girou, sem dor ou pendências.   E se... definitivamente fosse possível desvencilhar-se daquilo que passou e, por fim, conseguisse abrir a janela e olhar a beleza do que há lá fora e por quê não a beleza do que se fez dentro? E se fosse possível descobrir que o sol está logo ali e que já se está pisando na estrada que levará para o mais inesquecível dos verões? Não. Não é possível “desviver” o já vivido. Zerar a conta. Pedir uma nova rodada. Colocar em prática a velha balela de que o presente deve se construir sobre o passado.
Se já chegou até aqui, provavelmente não morrerá disso. Independente do que seja "isso". Para alguns, os fins são sinônimo de melancolia. E talvez lhe doa entender que o ciclo fechou, mas amanhã (eu prometo, amanhã) se dará conta que o ciclo não se fechou coisíssima nenhuma. O que aconteceu foi que outro ciclo se abriu e há leveza nos recomeços. Não é a primeira vez. Você já está na estrada novamente. Um pouco debilitado talvez, como todo bom soldado que volta da guerra. Mas está de pé, pronto para começar uma nova jornada com destino (ainda) desconhecido.
Não tenha pressa. Afinal o tempo, por si só, é um velocista.


domingo, 12 de novembro de 2017

Asneiras Poéticas

Minha paixão é totalitária 
Me consome até a última ponta 
Queimando os meus lábios 
Me subtraindo as palavras 
Dedilhando entre minhas pernas 
A melodia ainda desconhecida por pessoas rasas
Os Deuses me conceberam com fogo 
E como já dizia o ditado: 
Quem com fogo ama 
Com fogo será amado  
Se chamas atravessam minhas entranhas 
O tíbio não apetece paixão tamanha 
E não lhe é apetecível tais chamas 
Porque ignora a paixão tórrida que habita o fundo de sua mente puritana   
Fujo de gente morna 
Porque sou poeta 
E a paixão é o combustível da inspiração 
As palavras que saem da minha boca e do meu punho esquerdo   
São tão somente o clímax da arte nua em pleno orgasmo ávido   
O poeta, em sua humilde função de proporcionar ao leitor pequenas fugas, 
é a indecorosa mão debaixo da saia da Monalisa 
E o seu sorriso misterioso é a poesia indecifrável do sagrado feminino.

sábado, 4 de novembro de 2017

Dolce Far Niente

Sensível. Longe de qualquer expectativa, distante de muitas certezas. Um pouco dormente. Um tanto desiludida. Cansada. Por dentro e por fora.
Enquanto as palavras passam fluídas por mim, eu me demoro um pouco mais nessa distância.
Me sinto grata com algumas delicadezas que insistem em me fazer afagos - no peito e na alma - mas agora não sei retribuí-las, é que esse aperto ainda não se resolveu e me faz refém de qualquer esperança - mínima.
Meus discursos soam todos melancólicos, mas não há cólicas na intenção que habita as entrelinhas, só um desejo de não ser mais uma, de não ser tão pequena assim, nem tão grande.
Estou sentindo muito e por mais tempo. Tudo que me cerca, agora me habita. Talvez hajam "eus" demais em mim. Qual deles precisa de atenção e cuidados?
Quando fico assim, qualquer dor é umbilical - a minha e a dos outros. Tudo é enorme. Tudo é demais.
Estou alternando entre respirar e não respirar, abrir e fechar os olhos, pulsar e não pulsar, mas não há pausas no meu sentimento.
Estou olhando pra dentro. Enxergando grandezas que estavam escondidas nas esquinas de mim.
Vez em quando eu avisto uma paisagem bonita, que eu nem lembrava mais que existia.
Estou me amando um pouco mais.
Sensível. Perto de um afeto bem maior que eu.
Eu sou a cura pra mim.


quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Ei, menina!

Ei, menina!
Respira. 
Eu sei que os dias não são fáceis e que o mundo não está pronto para o seu fulgor.
Mas tente.
Respira.
Agora talvez você não consiga enxergar a imensidão da luz da sua luta.
Mas está aqui, escapando pelo seu olhar já tão cansado do hoje.
Ninguém pode apagar a luz da sua luta.
Veja: as flores que nos negam são as mesmas que florescem em nosso ventre. Não nos pode ser negado.
 Não acredite na fragilidade que nos pregam.
 Somos força.
 Mulher, não chore.
 Ou chore! Faça o que sentir vontade! A liberdade mora nos detalhes.
 Se há quem saiba como é caminhar com os Deuses, somos nós, mulheres.
 Às nossas filhas pediremos perdão pelo mundo ainda não entender a luz da nossa luta. Mas lhes ensinaremos a lutar como uma "garota".
 Lhes daremos as flores que nos foram negadas.
 Lhes contaremos da força que mora em nossas entranhas.
 Lhes mostraremos que lágrima não é fraqueza.
 Lágrima é, por vezes, alívio.
 Lhes daremos as chaves do mundo, como jamais nos foi dado.
 Então, menina, respira. 
 Os dias não são fáceis, eu sei. 
 Mas resista.
 "Você é seu próprio lar".


Eu gorda

Eu gorda
À margem de padrões pré-estabelecidos para que se viva em sociedade sem afronta-la.
Mas já que eu nasci pra afrontar, padrões não me cabem.
Eu gorda
Vivo a plenitude de ser, livremente, meu próprio padrão.
Eu gorda
Sou minha própria inspiração.
Eu gorda
Sou luta diária. Minha presença é o grito de alerta ao pé do ouvido da sociedade: respeite a minha essência!
Eu gorda
Sou as cicatrizes nuas das batalhas que travei até aqui. Sou os fragmentos dos caminhos por onde passei, também fragmentados por mim.
Eu gorda
Descobri o amor em cada dobrinha do meu corpo. Este mesmo corpo gordo, que é templo de minh'alma livre.
Eu gorda
Posso ser e fazer o que eu quiser. Não há limites nem padrões que possam parar meu apetite de vida.
Eu gorda
Me amo agora. De corpo presente, pulsante, vivo!
Nós, gordas
Somos revolução todos os dias batendo às portas do preconceito ao som da melodia do nosso grito:
ESTAMOS AQUI E RESISTIMOS!


terça-feira, 12 de setembro de 2017

Você não me deixa sem palavras. Me enche delas gradativa e subitamente, como um copo esquecido numa janela aberta quando chove.

Não, você não me deixa sem palavras. A verdade é que minha língua já está tão cansada que, por esquecimento ou preguiça, cerca-se de lapsos propositais da linguagem falada.

Cala-me a língua. Cala-me a fala.

Mas não cala o peito nem o punho esquerdo que traduz e dá corpo aos devaneios.




sábado, 9 de setembro de 2017

Utopia de Maysa II [+18]

Era sexta-feira entre as pernas de Maysa.

Eram sábados, domingos e feriados morando entre as suas pernas.

Lá fora a monotonia grita, mas não aqui. Aqui o silêncio é corrompido pela luxúria de Maysa. 

Aqui, sua carne farta, espremida pelas minhas mãos famintas, mais faminta fica.

Gosto de ver seus pêlos arrepiados respondendo a minha língua.

Maysa é contíguo de sensações, entregue aos seus próprios desejos.

Pra mim, reles mortal, resta atender os caprichos dessa deusa. 

Maysa é perversa nas suas mordidas.

Seus gemidos são música ambiente.

Sua pele entende perfeitamente o meu dialeto dedilhando seu corpo.

E enquanto sua boceta molha a ponta da minha língua que avança dentro dela, avançam seus gemidos cada vez mais altos. Sonoro júbilo.

Adentro o seu ventre, antes enfeitado pelas minhas lambidas, enquanto ela pede mais... Mais forte, mais fundo, mais dela, mais minha.

Não tenho dúvidas que Maysa guarda em si o céu e o inferno. Ela é paraíso em meio ao caos da minha rotina.

Observo o movimento dos seus quadris, seus olhos gulosos, sua boca entreaberta, seu riso sacana.

E quando seu orgasmo risonho penetra o silêncio da madrugada, mais forte a penetro pelo deleite de sentir seu gozo doce me envolver dentro dela.

Eu sou um romântico, não posso negar. Mais um entre tantos os que carregam suas marcas no peito. De unhas e dentes, vale ressaltar.

Meus ciúmes ficam da porta pra dentro do meu apê. Mais especificamente na bagunçada coleção de Poe onde rabisco minha obsessão muda por ela. 

Não posso reclamar. No agora ela é inteiramente minha. E eu dela. 

Enquanto ela sela o baseado com sua língua de fluídos de nós, cita mais um poeta por quem se apaixonara, já que também é poeta e a poesia lhe é apetecível:

"Tudo o que vemos ou parecemos, não passa de um sonho dentro de um sonho."

Acordei. Sozinho. O que me faz questionar se nossos encontros são deveras utopias.

Mas diante do espelho, estava eu, seguro de que ela esteve ali: seus arranhões comprovam minha sanidade ameaçada pela ansiedade em vê-la novamente. 

No cinzeiro, uma ponta. 

No celular, "desculpa ter ido embora tão cedo.".

Volto a monotonia que me afronta, à mercê dos caprichos da deusa.


segunda-feira, 10 de julho de 2017

Utopia de Maysa (+18)

Era quarta-feira entre as pernas de Maysa. Era quarta-feira há 2 dias. Dedilhava sua carne, arrepiando seus mamilos róseos de seios fartos.
Era doce o riso do orgasmo de Maysa enquanto eu a penetrava freneticamente. Seus gemidos e sorrisos preenchiam o silêncio daquele quarto de motel vagabundo.
 Minha língua entre os seus dentes perversos, ardia. Minha língua na sua boceta quente, fluía.
Maysa sorria, e de novo eu me embriagava nos sons que ela emitia, de olhos fechados e lábios rubros do êxtase que lhe causava.
Ela gozava e de novo eu adentrava o seu ventre, puxando seus cabelos longos, onde outrora habitava, respirando cada nuance do seu cheiro. 
Eu morava na taquicardia do meu peito enquanto ela rebolava deliciosamente nua, louca, puta.
Éramos deuses contemplando o êxtase que criamos até chegarmos a exaustão de corpos saciados.
Acordei com a fumaça do baseado que ela acendia. 
Eu a observava através do espelho do banheiro enquanto me penteava e me preparava pra sair da nossa utopia. 
Seus olhos negros avermelhados me fitavam ainda cheios de desejo. Molhava os lábios cinicamente, desenhando um riso sonso. 
Distraído pelas marcas das suas unhas e dentes no meu corpo, não a vi se aproximar. Veio sorrateiramente, beijando minha nuca, passeando sua língua no meio das minhas costas, destruindo qualquer plano de partir. 
Seus lábios encontraram os meus e ali eu fui dela. E ela foi minha. Seu doce hálito guardava a fumaça de um cigarro.
Eu precisava ir, mas não queria. Ela era poesia. Eu era poeta. 
E me puxando pra cama novamente, citou um dos poetas por quem também se apaixonara: 
"O que você faria por cinco minutos mais de eternidade?" 
Acho que não vou trabalhar hoje. De novo. 



terça-feira, 2 de maio de 2017

Ausência

Esperei por você. Com nó na garganta e boca seca.
Tudo é ausência e eu não te culpo. Deves estar em delírios nos braços de uma outra moça, assim como eu estive outro dia com um outro rapaz. 
Mas assim como sou única pra ti, você é pra mim e, há espaços que só você preenche.
A saudade me invade sorrateira como a noite tomando o dia. E quando vejo, sou noite, escura e fria. 
Não é a solidão que me assusta, não. É a incerteza dos nossos encontros. Solidão é combustível para os poetas. Não me preocupo, não.
Me preocupa o vazio, que depois de ti tornou-se cheio. Se não de ti, da ausência de ti. 
Eu noite, despida de estrelas, digo seu nome baixinho, nos braços de um outro poeta.



segunda-feira, 3 de abril de 2017

Cansaço de segunda

Eu corri a semana inteira. Pra não me atrasar, pra atender as necessidades de quem amo, pra atender as minhas necessidades, pra não perder um banho de chuva. E nesse banho de chuva, eu vi que tava cansada. 
É difícil dar de cara com seus erros e ter que lidar com eles assim, de bate pronto. Impossível não se julgar. Há quem queira ter sempre razão, e há quem só queira ter paz. Eu confesso que tô no meio. Tá aí, mais um defeito.
Não, não é auto-piedade. Tá mais pra se despir das máscaras sociais, se olhar no espelho e enxergar seus próprios demônios. Daí você fica com medo e repúdio, ou você os abraça. 
Já passei por muita coisa e em todas essas eu aprendi que nada é por acaso. E que as vezes a chuva é só uma chuva, sem nenhuma mensagem subliminar poetica. E o cansaço que permeia as trivialidades mais humanas é só o teu corpo ou tua mente te pedindo um tempo. As vezes a gente desanima mesmo e não há nada de errado nisso. E o cansaço é resposta tal como é dúvida.
O primitivo é tosco, bruto, puramente instintivo imune às firulas da evolução. E necessário. Em meio a tanta evolução que afasta e aproxima, reprime e liberta, informa e ludibria, o primevo põe seus pés no chão. É só prestar atenção. 
Faz as pazes com suas sombras. Eu continuo tentando daqui, com um cigarro vagabundo entre os dentes.


 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Cárceres Pessoais

Por que sufocamos nossas vontades diariamente trancados em metros quadrados de concreto? Casa/trabalho, trabalho/casa, trabalho/barzinho, barzinho/motel (as vezes, se tiver sorte)... Por que tão reclusos, tão escondidos, tão impessoais? E por que se esconder da chuva quando ela dá o ar da sua graça e ainda praguejar os deuses por isso? Reclamação atrás de reclamação, sem ao menos refletir no sentido dessas ações tão automáticas de rotinas vazias.  Talvez tenhamos nos condicionado ao comodismo e medo de dar uma espiada pela fresta da janela. Foi aí que devaneei que o mais difícil é dar o primeiro passo. Depois é como andar de bicicleta: carece de equilíbrio. E se carece de equilíbrio, por vezes ausente, aprende-se a tê-lo (o que não é fácil). Assim como pode-se aprender a (con)viver e lidar com as carícias e até as porradas que a vida dá. Se abrir pra vida é o espelho da liberdade. Percebe a simplicidade de alta complexidade de ser livre? Andar de bicicleta, abrir os braços... Pode isso? É ridículo e/ou engraçado, mas até que faz sentido. Eu sei, eu bem sei como é complicado olhar pra vida com essa empáfia. Requer coragem. Eu mesma vivo em busca da minha. É fato que coisas ruins acontecem todos os dias, mas a gente precisa seguir. Infelizmente, a nossa tendência e fraqueza de humanidade acomodada é complicar as coisas. Quer? Faça, vá, ligue! Não quer? Não faça, não vá, não ligue! Ama? Se expõe mesmo e cruza os dedos pela reciprocidade, que se não vem, segue. Calma. Somos muitos, similares, singulares, mas cada um com seu universo particular. As vezes tentando incansavelmente e inconscientemente anular-se por outras pessoas que, muitas vezes, estão fazendo o mesmo por outras pessoas e assim segue, como um círculo de improdutividade pessoal. Ainda tem aquelas pessoas, posso falar com propriedade, afinal sou uma delas, que as vezes se anula por medo. Mas tenho meditado um tanto considerável pra me convencer que os medos morrem de medo de mim também. Sem mais delongas, acompanhe o meu raciocínio: quando você entra em cárcere por vontade própria e você mesmo põe as trancas e amarras, esquecendo-se de como sua mente e corpo podem fazer e produzir coisas incríveis, quem pode te soltar senão você mesmo? Então eu volto a teoria do primeiro passo e concordo que seja o mais importante e o mais difícil. Depois é vento, paisagem, queda, choro, riso, gozo. Tudo depende da forma como você enxerga o mundo e se entrega pra si. 


terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Domingo

Fui meditar, "yogar" e tentar não pensar, logo de manhãzinha. Sob a luz do sol e sobre a terra úmida da chuva, que também me banhou de madrugada. E o deus sol queimando docemente minha pele, me contou sussurrando que a vida precisa seguir. E que minhas bochechas ficariam mais bonitas avermelhadas por ele. Respirei fundo, num riso. E o vento confirmou num arrepio bom que me deu.
Não poderia receber resposta mais bonita do tempo. Os dias passam cada vez mais rápido e as obrigações da vida prática as vezes nos impede de contemplar o mais simples, o que há de divino dentro e fora de nós.  Claro que algumas saudades ainda moram em mim e vão morar sempre. Mas o passado tem dado espaço pro presente. E o presente se desenha nos moldes da minha vontade. Na beleza do cotidiano, nas coisas que passam despercebidas, em novos rostos, em novos ânimos, novos planos que darão certo, ou não.  Aí a saudade se transforma em carinho de vento. Melodia bonita que aos poucos vai saindo da cabeça, dando lugar a outras melodias tão bonitas quanto, ou até mais. Existe um universo inteiro dentro de mim ainda não explorado. Ainda tem um tanto de chão pela frente e a tendência é ir adiante.  E eu tô indo. Com as bochechas avermelhadas, que realmente ficaram mais bonitas assim. É que quase sempre o primitivo, naturalmente tem razão: é preciso seguir. Dei uma olhada no passado só mais uma vez. E com o carinho que ele me foi quando presente, também fui presente, com um sorriso de gratidão como laço.   


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Céu de Janeiro

Dia 3, ano nenenzin. A previsão diz que o dia lá fora tá ensolarado. Aqui nesse quarto, embora a visão do céu esteja à 5 passos de distância, tá escuro. E tô aqui imaginando o quão lindo o dia deve estar. E no quanto eu deveria sair e olhar pro mundo e deixar que ele me olhe de volta. Parece fácil, parece até tentador pra uma alma livre assim que nem eu. 
Acontece que eu tô pesada. E não é pelas guloseimas de fim de ano. Tô com uma carga de saudades que nem me deixa dormir. E eu tô tentando mesmo transformar isso em algo bonito, inspirador, na ausência mais poética dessa minha vidinha zen. 
Eu tenho o céu de Janeiro pra me despertar do caos e a esperança de um ano melhor guardada no peito. E tenho planos aos montes! Aulas de violão, reforçar o inglês, me jogar no french, conhecer aquele jazz, mochilar por 1 mês, e te beijamorder na tua sacada sob o céu de janeiro. 
Eu tenho o céu de janeiro. Os confetes de fevereiro e as águas de março. Eu ainda tenho nós, mas enquanto sós, eu só tenho saudade e a certeza da tua teimosia em não morrer logo de saudades também e ressuscitar bem no cantinho do meu riso frouxo.
É que eu só posso rir mesmo da vida ter me pregado essa peça, meu bem. Eu tava no meu sofá, na paz do cosmos quando você apareceu e bagunçou minha vida de roupas dobradinhas. Veio pra eu não te esquecer. Veio pra me lembrar de todos os clichês com uma leveza perspicaz. 
É, eu só posso sorrir. E sair. Afinal, eu ainda tenho o céu de janeiro e, devo admitir que me sinto assim, um bem maior à espera de risos mais bonitos que os de hoje.