sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Poesia de despedida

Li suas antigas cartas e não pude evitar. Chorei. Guardei nossas fotos num lugar seguro por aqui. À prova de mim mesma, pra que nem mesmo eu possa nos ver naqueles poucos momentos bons congelados nas fotografias. 
Confesso que não reconheço mais o seu rosto. Aprendemos com facilidade a ser estrangeiros no país do outro. Não passamos de estrangeiros cansados e de malas prontas pra partir. 
Sabe o que está acontecendo aqui dentro? Genocídio. Estou matando toda a população de você que ainda há em mim. Cada pedacinho seu tem sido exterminado pelo descaso. Seu descaso, à propósito. Embora sejam as minhas mãos que estão sujas. São as esquinas de mim que estão de luto. Foi o meu carnaval que acabou. É quarta-feira de cinzas na minha avenida. 
Mas sabe de uma coisa? Ainda consigo sorrir, acredita?! Vou levando meu riso frouxo, desenhado em lábios vermelhos, a exibir por aí que estou de pé. 
Percebe o quanto não perceber-se afeta o outro? Percebe a malícia do descaso dos amantes?
Por hora, estou limpando nossa bagunça. E por hoje, estou cravando bandeira branca no meu peito, no topo do meu mundo, só pra doer mais bonito. Só pra fazer poesia na despedida.