quarta-feira, 11 de abril de 2018

Assinado, eu

Tudo anda tão confuso, mas, o que me resta de otimismo me faz pensar que isso, isso tudo também vai passar. Vejo constantemente as pessoas partirem pela minha inconstância. Me acostumei a caminhar só. Isso nunca foi realmente um problema. Minha própria companhia nunca me fez mal.
O que as pessoas que partem não sabem é que, ao sair aos berros da minha vida, acionam gatilhos que nenhuma terapia conseguiu curar. Gatilhos aconchegados no inconsciente que desconhece passado, presente e futuro. Eles estão sempre lá. As palavras curam tanto quanto machucam. Ou reabrem feridas.
Não há culpa, tão pouco revolta. As pessoas chegam e partem no momento certo. E apesar de estar sangrando agora, ainda sinto que devo ser grata a todas elas. Soa como uma despedida e, talvez realmente seja. Mas estou cansada demais pra exceder a vida ou acelerar a morte.
É estranho desejar estar no meu antigo quarto, no colo da minha mãe, que mesmo com palavras duras, ainda me emprestava seu colo. É mais estranho ainda me pegar fazendo o percurso do meu antigo “lar” sem querer. Mas de imediato lembro que já não é mais um lar.
Volto pra casa com 1 carteira de cigarros e 1L de leite. Não me envergonho em dizer que fiz o mingau que eu tomava na infância. Dormi a tarde inteira. Não sei se por febre ou tanta alma presa na garganta. Estou cansada. Mas isso tudo também vai passar. O cansaço, a negação, os gatilhos, a fraqueza, a saudade, os medos, a desordem, a febre... Isso tudo também vai passar.
A dor tem a capacidade de produzir coisas lindas dentro da gente. Para os que sentem demais, mesmo que em silêncio, sem alardes, buzinas ou gritarias, a dor nunca vem sozinha. Traz a beleza de poder senti-la em sua plenitude. Cada gota. Toda seiva. Todo sumo que provém dela. É a farpa intrusa e indicativa de que há vida. Muita vida. Tanta vida que escorre pelos olhos, transpira pelos poros. E isso basta.

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