segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Memórias Póstumas de um Casal sem Vergonha

Encontrei (de novo) aquela nossa foto sorrindo um pro outro. Você com cara de Raul dizendo insistentemente "eu sou astrólogo!", enquanto eu ria descontroladamente.

Pouco antes desta foto, você estava cantando "chovendo na roseira", justamente aquela estrofe: "...ah, você é de ninguém..." à qual prontamente respondi, dentro da melodia: ah... Você também... Enquanto forjavamos essa liberdade gritada, estávamos ali, presos um ao outro. Em silêncio, sem confessar que naquele momento éramos sim pertencentes um ao outro.

Mas essa passividade diante de possíveis histórias paralelas à nossa, era uma forma de defesa. Naquele momento eu não sabia, muito menos você, que a monogamia voluntária era recíproca.

Nós dois, tão evoluídos, discursando o amor livre, estávamos era morrendo de medo de nos perder. E foi assim que nos perdemos. Quando a dúvida perdeu a graça. Quando a possibilidade de haver mais corações fora do peito começou a doer.

Nos esquecemos por um tempo. Ou pelo menos fingimos esquecer. Conhecíamos bem os joguinhos em que o desapego parece atrair. Mas por experiência própria, nossa história não era regra. Era exceção. Tudo o que precisávamos era escancarar o apego. E o quanto estar longe doía. E estar perto era lar. Nós fomos a piada.


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