segunda-feira, 8 de julho de 2019

Você fica tão sozinho as vezes que até faz sentido

Você fica tão sozinho as vezes que até faz sentido.
Esse é o título de um dos livros de poemas do Bukowski (inclusive, para os existencialistas de plantão, recomendo fortemente). Mas não é sobre o livro ou sobre Bukowski que vim falar. É sobre o hábito de ficar sozinho e se acostumar de tal maneira que, conviver com outra pessoa parece um tanto desconfortável.
Somos moldados por hábitos e rotinas. E quando sua rotina é quebrada por interferência externa, as reações são as mais diversas, de moderadas à extremas.
A solidão propõe autoanálises de dar nó e é natural que seja assim. Mas do nó se faz laço que gera autoconhecimento. Gradativo, vale ressaltar. Requer tempo e paciência. É metamorfose à longo prazo. E nesse processo, cuidemos dos nós. E de nós. Coisa que não é tão fácil quanto parece. Se perceber por si só já é bem difícil, as distrações são incontáveis. É preciso desacelerar.
Das reações diversas, sou intima de duas: a exagerada expectativa no outro, ou a rispidez quase que sem notar. A segunda, particularmente é o que me preocupa. Afinal, expectativa é excesso de amanhã. E ando cansada demais para acelerar até o futuro mais próximo. Além do mais, o amanhã não tem de doer. Ou pelo menos não deveria.
Já a rispidez involuntária, meio que sem querer, machuca quem não tem nada a ver com as suas conversões. A grande questão é se perceber o suficiente pra evitar farpas em você e nos outros.
Acontece que estar só é muito mais confortável (quando é rotina). E com tanta facilidade de comunicação (ou isolamento), as pessoas estão à um click de distância. Interagir pessoalmente já não é mais tão interessante. Já não visitamos uns aos outros, limitamo-nos a visitar feeds.
Acabamos valorizando mais os números de seguidores nas nossas redes e esses não questionam, nem pedem explicação. Mas você já se perguntou onde estarão seus seguidores quando você realmente precisar deles? Quando a demanda não for engajamento, mas amparo? Ou quando a solidão finalmente virar laço e, você precisar, desejar e até salivar com a possibilidade de uma interação mais palpável? 
 A sensação é de que desaprendemos a conviver. A solidão real e cotidiana torna-se hábito. E o silêncio se torna personagem. Eu esperava trazer respostas aqui. Mas saí com mais perguntas. No entanto, estimular o questionamento já é um grande passo.

Eu não sei em qual momento você está. Mas talvez, pode ter chegado a ocasião de ser um bom anfitrião da sua própria vida. Deixe vir e, se a estadia for breve, agradeça a visita.
E como lembrete final: “eu levei um longo tempo para encontrar a pessoa mais interessante com quem beber: eu mesmo.” (a última dose)
Bukowski sempre acerta.


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