Representatividade
salva vidas e isso é inegável. Mas por muito tempo, nós mulheres, passamos
despercebidas, à margem da sociedade, de segundo plano pra baixo, com opiniões
desvalorizadas e todas as nossas vontades invisíveis. Ou melhor, visíveis
apenas como objeto para apreciação masculina.
Atualmente,
passamos a nos enxergar na mídia, na publicidade, na moda, no entretenimento e
mais. Isso é representatividade. Não mais como objeto, mas como geradoras e
consumidoras de conteúdo. Lacuna essencial para evolução da sociedade e
empoderamento feminino. Precisávamos ser lembradas como geradoras de capital,
consumidoras e assim por diante.
Porém,
como nem tudo são flores, existe um momento em que aquilo que deveria nos
representar se torna algo tóxico. Isso acontece quando parte-se para
glamurização/banalização de tudo, sobretudo do dia-dia. Daí em diante você já
não se identifica mais com aquela “realidade” e mais uma vez, não se sente mais
representada. É esse o gatilho que te faz pensar que sua vida é uma droga,
afinal todas as pessoas que você admira e se espelha tem uma vida muito
diferente, atraente, nada comum, tal qual você não tem.
Spoiler: tá todo mundo mal.
A
internet é um campo de muitos encontros, mas também é o lugar comum de muita
solidão glamurizada.
Há 1 mês
mais ou menos, eu decidi me desligar um pouco. Além da reflexão proposta aqui,
meu afastamento das redes foi um alívio para minha saúde mental. Manter-se bem
informada na atual conjectura e ainda mentalmente saudável, é desafiador.
Pausas são necessárias. E particularmente, estava perdida nesse universo de
superficialidades. Quando você consome e gera conteúdo, isso é muito
corriqueiro. Ninguém está imune. Independe de fraqueza.
O que me
fez querer sair desse looping foi algo muito simples: uma foto postada por uma
das influencers que admiro muito e por quem me sinto muito representada. A
questão não foi a nudez. Era de hábito dela e meu também, porque além de
consumir, também gero conteúdo. Já me despi diante das lentes várias vezes com
o objetivo de inspirar outras mulheres a amarem a si e seus corpos. Mostrando
que cada detalhe, cada dobrinha, cada cicatriz, é uma história contada em
silêncio.
O que me
chamou a atenção foi o desconforto ao expor seu corpo num momento em que ela
não queria fazê-lo. Aquele já não era um ato de empoderamento e inspiração como
de costume. Era apenas uma forma de alimentar as redes em busca de engajamento,
likes e followers. Neste ponto de interpretação, entenda a nudez
"coagida" como despir-se de todas as suas defesas e estar vulnerável
diante de desconhecidos. Seja tomando decisões simples que caberiam somente a
você, mas considerando a opinião de terceiros, à perder-se numa realidade
virtual, esquecendo-se que a vida real e o seu tempo estão passando sem que você
note.
Foi aí
que me perguntei até onde devemos ir para conseguir a devida atenção nas redes
de aparências. E qual o real significado da buscar por tantos seguidores e
tanta audiência, se para isso eu preciso estar desconfortável e com o
psicológico afetado. No fim do dia só restam o desconforto e a solidão
indesejada, junto a um monte de likes e a simulada (ou dissimulada) aprovação
de pessoas que provavelmente você nem conhece. Vale a pena? Vale a pena trair a
si mesma? Qual a importância da aprovação alheia se tudo o que você precisa é a
sua própria aprovação?
O amor próprio também consiste em dizer não.
Gerar
conteúdo dessa forma, baseado em auto-desconforto e na exposição forçada é tão
tóxico pra quem gera quanto pra quem consome. Mas indiscutivelmente mais tóxico
pra quem gera. Estamos num momento de ascensão do empoderamento feminino e é
inaceitável que ainda compremos a ideia de qualquer tipo de manipulação pela
audiência. Sua saúde mental vale muito mais do que isso. Esteja confortável na
sua pele, nas suas redes, em qualquer lugar. E se mostre sim, o quanto quiser.
Você pode e deve, se essa for sua vontade. E não a vontade dos outros.
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